outubro 30, 2011

A vida vista pelo Cinema

Minimalismo. O minimalismo permite a complexificação da mensagem sem limites. The Tree of Life (2011) é um poema audiovisual, uma exteriorização de uma ideia da vida, por Terrence Malick, que precisa de ser apreciado com tempo dedicado.


Fiz a leitura deste filme em três tempos distintos que acabo por assumir como camadas de leitura ou dimensões de sentido.

Dimensão 1 - O primeiro visionamento de The Tree of Life precisa de ser feito sem preconceitos, trailers, nem sinopses. Precisa de ser experienciado, vivido, sentido ainda que dificilmente possamos obter significado de tudo o que vemos na primeira abordagem.

Dimensão 2 - Num segundo visionamento começamos a construir o puzzle de mensagens embebidas. O que primeiramente nos tocou, ganha agora significados mais concretos e coerentes com toda a experiência.

Dimensão 3 - Finalmente numa terceira leitura já na posse de muita informação exterior à obra, a fábula, a nossa ideia mental do filme, eleva-se, explana-se, e ganha um novo pulsar.


Dimensão 1
Esta é uma obra que usa as essências fílmicas para comunicar: o visual, o sonoro, o drama e a montagem. O diálogo é escasso, o texto é escasso, mas quando surge tem sempre um propósito, um sentido, uma mensagem.
Exige de nós uma grande atenção ao detalhe, ao pormenor, ao fluxo. Faz-nos pairar por entre a vida e a morte. Seguimos todos aqueles personagens, sentimos os seus anseios, os seus medos, as suas constantes inconstancias. Sentimos a vida que vem e se vai.


Dimensão 2
Grace and Nature. O filme aborda a existência da vida, que vai da Terra ao Humano, seguindo um dualismo conservador: Deus ou Acaso.
Fala-se em Deus, no pecado, alma, o além, mas vemos apenas o mundo. Vemos as suas essências, nos seus elementos mais belos, perfeitos, naturais e sem dependência humana: a água, o fumo, o calor, o orgânico, as curvas, as texturas, a rugosidade, a irregularidade, a fragmentação, a união, a germinação. Aqui não há Deus.
A morte de um irmão, de um filho, é o ponto de partida, e serve o questionamento. Tudo se desenrola a partir daqui, uma tentativa de explicar a vida através da morte. Não há Deus, mas para Malick não é tudo um Acaso. Existe Esperança, existe Reencontro.


Dimensão 3
Para entrar mais adentro do filme, por forma a preencher os buracos do minimalismo, precisamos de entrar mais dentro do autor.
Malick é reconhecido pela sua reclusão, pela dificuldade de partilha do seu mundo com quem o rodeia. Não permitia que a sua ex-mulher entrasse no seu escritório ou soubesse o que este andava ler ou a ouvir, não esteve em Cannes para receber a Palma de Ouro.
Malick assemelha-se assim a Kubrick, ambos reclusos e donos da autoria completa das suas obras. E neste trabalho podemos mesmo dizer que em termos de mensagem The Tree of Life está muito próximo de "2001, A Space Oddissey" (1968).
Mas sobre este filme em concreto existe um facto da vida de Malick que se sente a trespassar todo o filme. O irmão mais novo de Terrence Malick suicidou-se em Espanha enquanto tinha aulas de viola com Andrés Segovia em 1968. Segovia foi um virtuoso da guitarra clássica no século XX, um dos expoentes máximos da arte, também altamente reconhecido pelo seu estilo de ensino assente no Autoritarismo e Medo.

Com esta terceira dimensão começamos a voar sobre os sentidos do filme, a compreender muito do que ficou por dizer. Mas The Tree of Life é uma experiência artística, como tal deve ser experienciada, não pode ser explicada.


The only way to be happy is to love.
Unless you love, your live will flash by.
Be good to them.
Wonder.
Hope.

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