novembro 10, 2011

A Educação em Portugal e na Europa

Atualização a azul realizada em: 11.11.2011 às 23:26

Neste gráfico da OCDE (Imagem 1) pode ver-se o estado em que Portugal está ao nível da educação do Secundário. Com muita tristeza podemos ver o que Salazar nos fez, a nossa população dos 55-64 anos (o quadrado) é em toda a OCDE a que apresenta menos Educação conseguida. Não estamos a falar apenas de estar no fim da cauda nestas idades, estamos a falar de diferenças gigantescas (de 12% em Portugal, para 60% média OCDE). E apesar de em 30 anos termos feito um esforço grande, olhem para o nosso triângulo, ainda estamos abaixo do Brasil, e só superamos o México e a Turquia!

Imagem 1 - População que atingiu o ciclo do 10 a 12º anos.

Aliás isto é ao nível da OCDE, ao nível Europeu, Portugal é uma aberração total, um deserto no que toca à Educação. Nós estamos com 44% de alunos que frequentaram o Secundário. Não existe mais nenhum país abaixo do nosso, nem perto do nosso. O mais imediatamente a seguir a nós é a Espanha que tem 66%. Estamos a 22% de distância, mas ela própria está a 15% da média da Europa que é de 80% de frequência do 12º ano.

E depois pedem ao país que Cresça, que Inove, que Crie. Mas como, não temos massa crítica, passámos da Agricultura para os Serviços mas quem ali trabalha continua a ter pouca mais escolaridade do que antigamente.

  Imagem 2 - Comparação da conclusão dos estudos por ciclos entre Portugal e OCDE

Aliás olhando para os dados comparativos de todos os ciclos de estudos (Imagem 2), e agora falando em termos de real conclusão de cada ciclo, temos 28% da população total com mais do que o Ensino Secundário (Secundário+Superior), enquanto toda a OCDE tem 72% de média. Estamos a falar de um distanciamento de 44%, não é uma daquelas comparações com um diferença de 2 ou 3 pontos percentuais. É praticamente o triplo e atenção que na OCDE incluem-se muitos países externos à Europa com menos posses que Portugal.

Imagem 3 - Investimento em Educação em percentagem do PIB

É que olhando para o Investimento em termos de PIB (Imagem 3), Portugal investe 5.6% de toda a riqueza anual que produz em Educação, ou seja em total sintonia com a OCDE que ainda assim é de 5.7%. Ao nível de países como a Finlândia ou a Áustria, o problema é que estes países apresentam ambos uma população de 90% com frequência do 12º ano, ou seja eles estão a investir o mesmo que nós quando apresentam já o dobro das nossas qualificações.


Desta forma nós precisamos obrigatoriamente de elevar o investimento, é crucial para o presente e futuro de Portugal. Mas o que o Nuno Crato nos trás é "fazer mais com menos". E até podiamos dizer, que "a culpa não é dele, isto é da crise, não há dinheiro, ele não pode fazer nada quem manda é o Vitor Gaspar (MF)". Mas não podemos dizer isto, e porque não? Porque o que temos não é apenas a redução da quantidade de dinheiro total investido em Educação, o que temos é uma redução da Percentagem do PIB, e não é pequena, que passa de 5.6% para 3.8% em 2012. Isto é alarmante, isto é uma total aberração, e é fruto apenas e só da Ideologia de quem traçou o orçamento e de quem o defende. Em termos de percentagem do PIB, como se pode ver na Imagem 3, nenhum outro país desprezou assim a educação da sua nação!!!

Assim compreende-se que não exista outra alternativa a fechar escolas, parar a construção de novas escolas, retirar disciplinas que servem de motivação aos alunos como TIC. Ainda assim Nuno Crato conseguirá a proeza de aumentar o mais investimento no ensino secundário Privado, quando o devia estar a distribuir para garantir mais ensino a toda a população e não apenas aos que podem pagar.

Imagem 4 - Panfleto afixado em escolas secundárias em 2011

O que devia estar a fazer era investir fortemente no ensino Técnico-Profissional para motivar os milhares de crianças que não se adaptam ao ensino clássico que é o que faz muito fortemente a Alemanha e também a França. O que devia estar a fazer era incentivar a autonomia das Universidades para que estas continuassem a conseguir mais verbas fora do Orçamento de Estado, e com isso incentivassem os seus quadros a realizar mais e melhor investigação.

Imagem 5 - Fábricas que empregam mão de obra intensiva não qualificada porque é mais barato que o investimento em investigação em novas máquinas.

No fundo o que precisamos de fazer é elevar violentamente a educação da população, porque a mão-de-obra barata que vingou nos anos 80 já não vende. A mão-de-obra barata, aquela que tem apenas a 4ª classe, ou o 9º ano já não vende nem na Europa de Leste. A Nokia ainda este ano deslocalizou uma Fábrica de telemóveis da Roménia para a China. Ou somos capazes de criar mais valia, produzir produtos com altos níveis de qualificação, ou então estamos condenados a Empobrecer.

Analise-se de novo a Imagem 1 e veja-se o exemplo da Coreia do Sul. A Coreia do Sul há 30 anos já estava muito à frente de Portugal. Mas não é isso que vos peço para olhar. Olhem para o salto dado, é de 40 para 100. Em Portugal saltámos de 12 para 48. Ou seja o salto dado pela Korea no mesmo período de anos, é de 60 pontos percentuais, o nosso salto é metade! Mas o que isto quer dizer, mais do que termos apenas crescido metade, é que é possível fazer muito mais.

Agora pensem no mundo da Eletrónica mundial, quais são as marcas das TVs, Telemóveis, DVDs, Ar Condicionados, etc. que todos os dias veem à venda nas grande superficies portuguesas, são a Samsung e a LG. Quantas marcas de carros Coreanos conhecem - Hyundai, Kia, Daewoo ou SsangYong. Não podemos esquecer que a Coreia do Sul não teve Salazar, mas teve uma guerra que levou ao desmembramento do País em Norte e Sul. 


O problema disto é que para em Portugal criar uma marca destas de eletrónica ou carros, não chega ter 14% de licenciados, de todo. Mas em cima disso e talvez mais grave, precisávamos de muitas mais pessoas com qualificações ao nível do 12º ano, não chega ter mais outros 14%. De preferência técnicos qualificados em Metalomecânica, em Mecânica, em Eletrónica, em Informática, em Gestão, em Secretariado. De que me adianta ter milhares de miúdos com 18 anos que sabem muito de Português ou Matemática, mas não sabem fazer nada de concreto! Mas pior é mesmo que a grande massa, 72%, não vai além do ensino básico do 9º ano. Com essa escolaridade não servem a nenhuma empresa que precise de competir internacionalmente.

E factos, a Coreia do Sul está longe de investir 3.8% do seu PIB em Educação, nem 5.6%, a Coreia do Sul nos dias de hoje investe 7% do seu PIB em Educação. E depois venham-me dizer que temos dos sistemas de ensino mais caros do mundo, o que temos é um total desprezo pelo sistema de ensino. O que temos é uma visão miope. O que queremos é continuar a viver como um país pobre, sem saída. 

Ou melhor a saída parece ter sido apresentada por estes dias pelo secretário de Estado Juventude e do Desporto deste governo quando disse, "temos de sair da zona de conforto e ir para além das nossas fronteiras", isto é o que este governo tem a propor a quem neles votou, é a emigração. Por que segundo eles "esse emigrante regressará depois de conhecer as boas práticas do outro país e poderá replicar o que viu no sentido de dinamizar, inovar e empreender". Claro, mandamos a nossa juventude formar-se à custa dos outros e depois esperamos que eles voltem para nos tirar do buraco!!

Não haja qualquer dúvida disso, é que se esta atitude se mantiver face à educação, aquele fosso entre o quadrado e o triângulo, da Imagem 1, em vez de aumentar vai diminuir e as consequências disso só podem ser o empobrecimento, o regresso à agricultura de subsistência dos anos 50 e 60.

Imagem 6 - A agricultura de subsistência garante apenas a sobrevivência dos envolvidos no trabalho direto.

Estou em crer que este Ministro da Educação ficará para a história como o ministro mais Salazarista, desde os tempos de Salazar, em termos ideológicos.


Toda a informação no relatório Education at Glance 2010 da OCDE.

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