janeiro 10, 2013

autoria, criatividade e dedicação

Malaria (2013) é um trabalho de excepcional qualidade artística, no sentido em que inova no campo da linguagem cinematográfica e o faz com uma enorme competência técnica, contribuindo para toda uma coerência do artefacto que o eleva acima do mero experimentalismo.


Edson Oda diz-nos que se baseou no género cinematográfico Western, na criação de Malaria fazendo uso além do western de origami, time lapse, ilustração, e banda desenhada. Mas o filme não é apenas um multiplicidade de técnicas e efeitos, é muito mais do que isso, porque toda direcção de arte é extremamente coesa, contando com um guião que demonstra um enorme talento na escrita para audiovisual. Existe aqui uma muito clara noção de tempo e ritmo, e a música é fundamental para conduzir e enfatizar e emocionalidade de cena para cena, é soberbo. Percam cinco minutos e vejam, porque vale todos os segundos.

Malaria (2013), Edson Oda

Edson Oda já tinha utilizado esta técnica, ou conjunto de técnicas, antes para fazer um pequeno filme, Writer (2012). Esse primeiro filme foi feito para submeter a um concurso patrocinado por Quentin Tarantino a propósito do seu último filme Django Unchained (2012). Oda submeteu e venceu, foi o escolhido por Tarantino, com quem pôde depois conversar em Los Angeles na Comic Con. Vejam o filme aqui abaixo.

Writer (2012), Edson Oda

Sobre Edson Oda ele é licenciado em Comunicação pela Universidade de São Paulo, e está a fazer o mestrado em Cinema na USC, Los Angeles. Mas não se pense que a técnica aqui desenvolvida caiu de um acto de inspiração. Antes de tudo isto, Oda já tinha trabalhado em publicidade no Brasil trabalhando em equipas que ganharam vários Cannes Lion, entre outros prémios individuais. Aliás antes de ganhar o concurso do Tarantino, já tinha ganho o prémio Melhor Filme de Estudante no Big Apple Film Festival 2010 e sido selecionado para o San Francisco Indie Film Festival 2010, com o filme, Laugh and Die. (2010). Podem ver aqui abaixo também.

Laugh and Die, (2010), Edson Oda

Tinha ficado surpreendido com Malaria estreado agora em 2013, depois vi Writer estreado a meio de 2012 e percebi que tínhamos aqui alguém claramente talentoso no campo do storytelling. Mas depois de ver Laugh and Die de 2010 percebi que não era mero talento, mas pura dedicação, e paixão pelo que faz. Oda demonstra uma enorme evolução nas suas competências para usar o meio audiovisual. Laugh and Die está bem escrito, tem um bom actor, mas a parte visual está ainda um bocadinho tremida. Depois Writer melhora imensa no campo visual, mas continua a sofrer no campo sonoro, e depois vem com Malaria, e apresenta um filme poderoso em todas as frentes. Writer era uma espécie de diamante em bruto, mas Malaria traz-nos esse diamante completamente cortado e polido, capaz de brilhar em toda as suas faces.
Tarantino dizia ao jovens talentos aspirantes a realizador que "precisavam de encontrar a própria voz", de encontrar a sua identidade autoral. Julgo que aqui podemos já ver um bocadinho disso, reparem como todos os três filmes trabalham uma perspectiva de fantasia da morte. Para mim mais do que tudo, o que o seu trabalho demonstra é que continua a haver muito espaço para inovar e ser criativo no mundo do cinema.

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