janeiro 05, 2009

emoção nascente

Acaba de ser publicado no The Journal of Personality and Social Psychology, Vol. 96, No.1; January, 2009 o artigo Spontaneous Facial Expressions of Emotion in Congenitally and Non-Congenitally Blind Individuals da autoria de David Matsumoto da San Francisco State University Psychology e Bob Willingham do Center for Psychological Studies.
Matsumoto e Willingham compararam expressões faciais de atletas sem e com visão nos Olímpicos de Verão e Paralimpicos de 2004. Foram capturadas e analisadas mais de 4800 imagens de atletas de 23 países diferentes. Os resultados são descritos da seguinte forma:
"There were no differences between congenitally blind, noncongenitally blind, and sighted athletes, either on the level of individual facial actions or in facial emotion configurations. Blind athletes did produce more overall facial activity, but these were isolated to head and eye movements. The blind athletes’ expressions differentiated whether they had won or lost a medal match at 3 different points in time, and there were no cultural differences in expression. These findings provide compelling evidence that the production of spontaneous facial expressions of emotion is not dependent on observational learning."
Isto sugere muito claramente que a existência de algo genético está na origem das expressões faciais de emoção. Estes resultados não são propriamente revolucionários para a ciência das emoções, mas podem ter um impacto interessante nas restantes ciências. Há mais de 30 anos que Paul Ekman estuda as emoções faciais, tem argumentado fortemente em favor da existência de 5 emoções Universais - Alegria, Tristeza, Medo, Raiva, Nojo. Vários autores o têm defendido incluindo Damásio que opta pela adjectivação de Básicas. Contudo sente-se nas restantes ciências ainda alguma relutância em aceitar que o ser humano possa de alguma forma nascer pré-configurado. Nomeadamente todo o espectro das ciências sociais e humanas tem grande dificuldade em aceitar que a cultura é apenas uma parte da questão e que não pode ser tida como o denominador da caracterização humana. E é por isso que julgo que estes resultados são importantes. É importante que se demonstre esta realidade e que as pessoas tenham consciência que parte do que somos está pré-inscrito em nós à nascença e nenhum processo de aculturação o pode alterar.

Mas é ainda mais importante reconhecermos a Psicologia Evolucionária que serve esta descodificação através de teorias Darwinianas. Ou seja, o que somos hoje, é parte de um processo de selecção natural de séculos e milénios de evolução. Se sentimos nojo, é porque ao longo da nossa evolução os que foram sobrevivendo possuíam emoções capazes de refrear a aproximação à doença. A alegria facilitava o relacionamento entre humanos, a geração de união e facilitava a reprodução. Por outro lado a tristeza impedia que a união se quebrasse. A raiva ajudava a reagir contra tudo o que fosse obstáculo à natural evolução da espécie e desse modo ajudou na evolução do próprio humano enquanto ser. Finalmente o medo, o medo é aquela emoção que nos mantém verdadeiramente vivos, sem o qual nenhum ser humano duraria mais do que alguns dias de forma autónoma. Medo, o nosso sistema de alerta constante que se interliga a todas as outras emoções e responde sobre todas as nossas decisões. Este é todo um processo natural para o qual a cultura foi contribuindo mas de forma algo indirecta e muito lenta, deixando grande parte da tarefa ao efectivo poder da selecção natural que se encarregou desde bem cedo em seleccionar os melhores e mais aptos.

Estas reacções humanas básicas são responsáveis pela manutenção da espécie humana enquanto animal mamífero e ao mesmo tempo enquanto o animal mais dotado para discernir entre responder emocionalmente ou reter interiormente a emoção ainda que contudo a possa manifestar facialmente. Um verdadeiro jogo da emoção que se vai repercutindo sobre o nosso ser ao longo dos milénios.

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