maio 25, 2009

comunicação visual digital

Scott McCloud é um autor de reconhecido valor na área dos estudos de banda desenhada (comics). As suas maiores faculdades estão na forma como ele é capaz de categorizar e re-categorizar o mundo, de o assimilar e de o etiquetar e ao mesmo tempo de justificar com um forte argumentário, plausivel e inovador. McCloud é alguém particularmente dotado na área da comunicação visual e por isso faz todo o sentido dedicarmos algum tempo a ouvi-lo nesta conferência TED, mas não só, a lê-lo nos seus livros.
Nesta conferência o ponto que mais me impressionou foi o modo como ele apresentou a passagem da banda desenhada impressa (print comics) para os novos media digitais e interactive (web comics). Dois conceitos são verdadeiramente importantes e a reter, o momento em que ele fala da adição de som e movimento aos quadros desenhados, a ruptura que esta adição provoca na continuidade temporal. E em segundo lugar a perspectiva do monitor não como uma folha de papel, mas antes como uma janela, algo de que André Bazin falava embora enquanto objecto de realismo.
Desta apresentação ficam ainda as 4 prioridades de McCloud,
Learn From Everyone
Follow No One
Watch for Patterns
Work like Hell

maio 24, 2009

um dia feliz para Portugal

É a primeira vez que um filme português consegue tal feito, a curta-metragem Arena de João Salaviza ganhou a Palma de Ouro em Cannes 2009.
Depois de ganhar o grande prémio no Indie Lisboa 2009, no início deste mês, foi agora a vez desta produção da Filmes do Tejo ganhar no mais importante festival de cinema do mundo. O filme fala-nos de: "Mauro vive em prisão domiciliária. As tatuagens ajudam-no a queimar o tempo. Três putos do bairro aproximam-se da sua janela. Lá fora, o sol bate com a força do meio-dia". Sobre o filme João Salaviza, com 25 anos e o curso de cinema inacabado, escreveu um statement que se transcreve a seguir,
"What interests me more than capturing the transformations a place might undergo, is the tension that builds in the moments where nothing changes. The lead in “Arena” is restricted by limitations of both space and time. By filming Mauro in home confinement I was faced with the situation of a man with nowhere to go. I followed through with that idea from the script to the editing.
With the rule that no shot would prefigure the protagonist’s trajectory, nor suggest to him paths he simply could not see. That is right for someone who lives in a house with bars on the windows, and who secretly hopes that things will change by themselves. "
Não podemos ver o filme mas podemos ver bocados entrecortados com uma entrevista ao João Salaviza, no trabalho realizado pelo programa da RTP Fotograma,



Quero apenas aqui a deixar bem frisado que esta é a primeira vez que Portugal ganha tal prémio. A razão para eu frisar esta situação é dupla, por um lado porque é importante, mas por outro para se perceber de uma vez por todas que o cinema português dito de qualidade que não agrada ao público português mas que "vende bem em festivais internacionais" cai aqui por terra. Manoel de Oliveira ganhou apenas no ano passado uma Palma de Ouro mas atribuída pela carreira (Lifetime achievement award for his work), não por um trabalho em particular em concurso regular, uma espécie de doutoramento Honoris Causa.

Ainda sobre os Prémios Cannes2009, Michael Haneke leva pela segunda vez a Palma para a longa "Das Weisse Band".

o futuro da comunidade


Eurodeputada vai a sessão de votação no parlamento europeu com o bebé

Um exemplo do que deve ser uma comunidade que vive em harmonia e permite que as mulheres possam realizar a sua carreira sem que para isso tenham de sacrificar a maternidade. Neste caso temos claramente um comportamento escandinavo a procurar afirmar-se no seio de uma comunidade onde ainda se olha para os bebés como um estorvo e não como algo bom para toda a comunidade.

[a partir de El País]

maio 21, 2009

João Bénard da Costa (1935-2009)

Play the guitar
Play it again, my Johnny
Maybe you're cold
But you're so warm inside
I was always a fool
For my Johnny
For the one they call Johnny Guitar
Play it again, Johnny Guitar

What if you go
What if you stay
I love you
What if you're cruel
You can be kind
I know

There was never a man
Like my Johnny
Like the one they call Johnny Guitar

There was never a man
Like my Johnny
Like the one they call Johnny Guitar
Play it again, Johnny Guitar

Johnny Guitar de Peggy Lee faz parte da banda sonora do filme Johnny Guitar (1954) de Nicholas Ray, o filme da vida de João Bénard da Costa.

maio 19, 2009

IAMCR 2010

“IAMCR’s Executive Board and International Council have selected the University of Minho, Braga, Portugal to host IAMCR’s 2010 conference. Proposed dates are from 18-22 July, 2010. More details about the Portugal conference will be announced during this year’s conference in Mexico”

maio 18, 2009

Cannes 2009 - Antichrist

A primeira polémica de Cannes 2009 já rebentou e temos como actor principal o repetente e inigualável Lars Von Trier. Vale a pena ver a press conference dada ontem imediatamente a seguir à projecção em Cannes de Antichrist.

À provocação de Antichrist, reagiu um jornalista do Daily Mail que questionou frontalmente e exigiu mesmo uma resposta de Von Trier no sentido de explicar o porquê de ter realizado este filme - “explain and justify why you made this movie”.

Um momento inquietante em que se sente um Lars tímido e introvertido à procura de palavras. E o mais interessante é que o que ele diz tem pouca ou nenhuma relação com toda a sua linguagem não-verbal.
"I don't have to justify myself... I make films and I enjoy very much making them... You are all my guests, it's not the other way round... I work for myself and I do this little film that I'm now kind of fond of and I haven't done it for you or the audience so I don't feel I owe anyone an explanation.
It’s the hand of God... And I am the best film director in the world. I’m not sure if God is the best God in the world.”
Julgo que Von Trier deixa bem explícito aqui o que é o cinema arte e como este se distingue do cinema de entertainment. O trailer mostra pouco das tão badaladas "blood spurts, bones are broken, genitals are mutilated..."



Nas notas de produção Von Trier deixou a seguinte afirmação: "I can offer no excuse for 'Antichrist' ... other than my absolute belief in the film -- the most important film of my entire career!"

Vamos aguardar para ver.

maio 16, 2009

voando dentro da acção

Aqui há dias deixei aqui um post sobre a nova TV da Philips 21:9, ou seja 2.35, ou seja cinemascope puro. Agora trago o spot publicitário desenvolvido para o media online apenas e o seu making-of. O spot tem cerca de 2 minutos e está impressionante. Mais uma vez usa-se uma técnica que permite ver a realidade a partir de um ângulo impossível. E neste caso já até já conhecemos a estética, que vem do conhecido efeito Matrix, mas aqui o efeito prolonga-se temporal e espacialmente o que obriga a toda uma diferente abordagem e nos interroga. Aconselho vivamente a verem o filme no próprio site da Philips.



Ouvindo a entrada do making-of dizer que participou no desenvolvimento do spot, uma equipa de mais de 100 pessoas (ao contrário do anterior filme que aqui apresentei praticamente concebido por apenas uma pessoa), 3 gruas, 3 dias de rodagem e 5 dias de pós-produção tudo para construir uma publicidade a um novo ecrã que terá dificuldade de penetrar as massas e ainda para mais em ambiente online apenas, é impressionante.



No making-of tiramos as dúvidas e percebemos como foi conseguido, também graças a uma técnica usada extensivamente em matrix que passa por suster os actores através de fios e no final eliminar os fios. Mas uma parte do truque que gostei de ver foi o facto de filmarem com e sem actores para depois poder sobrepor e assim gerar um maior efeito de "estaticidade", e que se sente na visualização.

maio 11, 2009

Sebastian's Voodoo

O trabalho que aqui vos trago foi-me enviado pelo João Martinho a quem agradeço a colaboração. Sebastian's Voodoo de Joaquin Baldwin é um trabalho audiovisual com componente 3d, de qualidade magistral.

Começando pela forma, temos um belíssimo trabalho de character design conseguido com os bonecos de voodoo, tanto pela sua estética, o uso da textura de saco de pano e a sua animação gerada toda com grandes contornos arredondados, ao modo como se expressam sem falar, o modo como nos contagiam e nos fazem construir empatias é muito bem conseguido. Em segundo lugar a atmosfera, toda ela do início ao final está perfeitamente desenhada, desde o humano do qual não conseguimos ver o rosto, ao detalhe final da porta aberta e a entrada de luz é excelente. Por fim a narrativa, que em minha opinião é o que lidera todo o conjunto de forma muito coerente e consegue todas aquelas emoções nuns míseros 3 minutos e meio. Desde a caracterização dos personagens, à construção da interacção entre eles e com o "inimigo" até à criação de suspense, ou seja de retenção e libertação de informação nos momentos chave, conseguindo ainda com isso elevar o personagem de "um entre muitos" a herói. A música não sendo algo brilhante, enquadra bem a atmosfera remete para os ritmos africanos do voodoo e funciona em plena harmonia com as necessidades da narrativa.

Vejam porque vale a pena ser visto e revisto, e diria até que para os meus alunos que seguem este blog vejam várias vezes este filme porque têm aqui muito para aprender. E já agora, não que alguém me tenha pedido mas porque sinto que o merece, votem no filme no YouTube. O filme está a participar num concurso organizado pelo National Film Board of Canada, com o Cannes Short Film Corner em parceria com o YouTube e os votos serão contabilizados apenas até ao dia 20 deste mês.

maio 10, 2009

Today I Die

Daniel Benmergui acaba de publicar o seu terceiro videojogo arte Today I Die, depois de Storyteller e I Wish I Were the Moon. É um jogo independente e experimental/artístico, aposta no puzzle/enigma com uma base lógica de poema. Esteticamente usa o pixel art como suporte que em conjunto com a sonoridade nos transporta para ambientes Amiga dos anos 80.


A entrada no jogo pode não ser fácil para alguns, mas vale o esforço. A resolução dos puzzles visuais vai-nos transportando para dentro do poema que através dos seus verbos nos vai fazendo sentir cada vez mais parte daquela atmosfera. Sendo simples, consegue ser emotivo e deixar a sua marca.

Veja-se também o modelo de donativos desenvolvido pelo criador para suportar a criação do jogo.

o design

Danny Outlaw publicou recentemente uma lista de 50 Citações Inspiradoras sobre a Arte e Ciência do Design. Das 50 seleccionei 9, aquelas que mais se enquadram na minha definição de design e ao mesmo tempo definem o meu modelo ideal de trabalho.
Milton Glaser
To design is to communicate clearly by whatever means you can control or master.

Jim Jarmusch
Nothing is original. Steal from anywhere that resonates with inspiration or fuels your imagination. Devour old films, new films, music, books, paintings, photographs, poems, dreams, random conversations, architecture, bridges, street signs, trees, clouds, bodies of water, light and shadows. Select only things to steal from that speak directly to your soul. If you do this, your work (and theft) will be authentic. Authenticity is invaluable; originality is nonexistent. And don’t bother concealing your thievery - celebrate it if you feel like it.

Steve Jobs
Design is not just what it looks like and feels like. Design is how it works.

Nolan Bushnell
The ultimate inspiration is the deadline.

John Maeda
If there were a prerequisite for the future successful digital creative, it would be the passion for discovery.

Freeman Thomas
Good design begins with honesty, asks tough questions, comes from collaboration and from trusting your intuition.

Massimo Vignelli
I see graphic design as the organization of information that is semantically correct, syntactically consistent and pragmatically understandable.

Erik Adigard
Design is in everything we make, but it’s also between those things. It's a mix of craft, science, storytelling, propaganda, and philosophy.

Paul Rand
It is no secret that the real world in which the designer functions is not the world of art, but the world of buying and selling.

maio 09, 2009

literacia dos videojogos

Foram disponibilizadas as contribuições resultantes da conferência organizada em Faro no passado mês de Fevereiro pelo projecto europeu EUROMEDUC sobre a Media Literacy and the Appropriation of Internet by Young People, e que podem ser consultadas aqui.

Participei nesta conferência enquanto especialista de tecnologia e ludologia e desse modo a minha participação resumiu-se mais a um papel de observador e sintetizador de ideias. Nesse sentido o trabalho dos especialistas será apenas editado aquando da conferência final a decorrer no mês de Outubro em Itália. Para já deixo a ideia de que a literacia dos media tem ainda um longo caminho a percorrer tanto na identificação dos seus alvos, jovens ou adultos, e na sua definição e operacionalização no que toca ao desenho de uma literacia de análise ou de produção, de e/ou para os media.

i para o seu público

Comprei o primeiro e segundo números do jornal i e posso dizer que fiquei bastante satisfeito, por variadas razões.

1 - A leveza do espectro informativo que em minha opinião se deve há ausência das famigeradas categorias já tão tipificadas pelos jornais comuns.

2 - A componente gráfica que lhe confere uma identidade própria. Baseada em formatos de revistas ou outros, o que é irrelevante, até porque original original só Adão e Eva.

3 - O editorial é honesto e fala com o "seu" público à semelhança dos spots que vão passando no rádio.

4 - Nota-se uma clara aposta no modelo opinativo que não é camuflado por entre as notícias mas assume o primeiro plano conferindo ao jornal um modelo menos hermético, menos veiculado pelo fluxo jornalístico e mais pela opinião da enorme quantidade e acima de tudo diversidade de pessoas da sociedade que ali imprimem a sua visão.

5 - O excelente spot rádio diz muito sobre o jornal. Sinto uma identificação completa com o factor de estar saturado de tanta informação, que na maior parte das vezes pouco ou nada diz e que se acotovela para nos entrar pelos sentidos adentro. Tenho em muitos momentos, que cada vez se vão prolongando mais no tempo, deixado deliberadamente de comprar jornais e ver telejornais, por pura saturação. A quantidade, a agressividade e a homogeneidade de conteúdo e forma deixam-nos cada vez mais imunes ao apelo dos arautos da informação.

Quanto ao que menos gostei. Essencialmente não gostei, ou melhor, fez disparar um alerta dentro de mim, sobre um facto que se adensa cada vez mais na sociedade portuguesa. A subserviência à cultura americana. Respira-se demasiado EUA no jornal, como vai acontecendo um pouco por todo o lado em Portugal. Isto é representativo da mudança da bússola cultural nacional que mudou nos últimos 10, 15 anos a agulha da França para os EUA. Gostaria de ler trabalhos sociológicos sobre este facto, o que está por detrás do mesmo, porquê tanto seguidismo dos padrões americanos. Agora que pertencemos a uma identidade cada vez mais realizada do cidadão Europeu estranho que o nosso quotidiano se permita ser trucidado desta forma agressiva.

Ao contrário de outros colegas, não gostei particularmente do sítio, fica muito aquém do jornal. Mas não me choca, o facto de existir desde o primeiro número é muito bom e terá a seu tempo capacidade para se ir autonomizando e ganhando vida própria. Não esqueçamos que são dois projectos o jornal papel, e o jornal digital. Uma boa parte da imprensa aposta de forma superficial na rede, e os que o fazem com qualidade levaram anos a consegui-lo. São muitas as revistas que saem para o mercado sem sítio no primeiro mês e até muitos meses depois. É um investimento paralelo que claramente deve ser racionalizado em tempo de contenção em função do sucesso que o jornal papel possa atingir. Mas pelo menos sabemos que existe um interesse claro em seguir por aí.

Quanto aos críticas dos meus colegas jornalistas e académicos do jornalismo (1, 2, 3) tenho apenas a dizer que claramente este não é um jornal para vós. Deixem-nos desfrutar de algo que se apresenta com uma nova visão e ideia da realidade.

maio 06, 2009

da genialidade à banalidade

Mais um mito derrubado. Passados quase 120 anos, e após 10 anos de pesquisa, os historiadores Hans Kaufmann e Rita Wildegans vêm demonstrar, no livro In Van Gogh's Ear: Paul Gauguin and the Pact of Silence, que o mito que relatava o facto da genialidade/loucura de Van Gogh o ter levado a cortar a própria orelha para a poder desenhar com maior exactidão, nunca passou disso mesmo, de um mito.
Segundo consta nestas recentes descobertas o responsável terá sido Gauguin que num acesso de raiva ou defesa terá cortado a orelha a Van Gogh. Para que Gauguin não fosse preso Van Gogh terá omitido esse facto.

tipografia em movimento


F is for FAIL de Brent Barson

F is for Fail is a short film about the creative process, and the failure we always encounter, but usually overcome. Told using the alphabet, each letter informs us of the state of the protagonist's creativity/state of mind. Each letter has two words associated with it (except A and Z); sometimes the positive word overpowers the negative word, and vice-versa.
Typographic footage was converted and exported one frame at a time. No filters or plug-ins!
Creative direction, design, and animation by Brent Barson.
Music by Micah Dahl Anderson. Oscar-caliber acting by Jon Troutman.

maio 04, 2009

videojogos arte

Okami de Hideki Kamiya (2006)

Interessante artigo, The Path For Art Games, de Leigh Alexander no Kotaku sobre novas abordagens estéticas no campos dos videojogos.
Audiences constantly demand video games fight familiar boundaries. We're sick of the same old, same old. We want creativity, artistic integrity, elegance and depth–or do we? Do players know what they're asking for when they look for "more" from games? And if this is really what we want, then what's with the mixed reception–both cultural and economic–when we get it?

maio 03, 2009

no comments

Desemprego atinge 20 milhões na UE
Jornal de Notícias - 2009/05/01

A revolta do desempregado contra a popular Rainha
Diário de Notícias - ‎2009/05/01‎

Salários dos gestores: A crise não é para todos
Visão, 2009/04/30
"O número é gordo: 810 891 euros. Foi este o salário médio que cada administrador executivo, de dez das maiores empresas portuguesas cotadas em bolsa, ganhou ao longo de 2008. Um rendimento 136 vezes superior ao de uma pessoa que tivesse auferido o salário mínimo em vigor durante o mesmo ano. Veja as contas: 14 meses x 426,5 euros = 5 971 euros. E um português que ganhe um salário médio estimado em torno dos mil euros necessitaria de duas vidas para conseguir um rendimento igual ao que um daqueles gestores aufere num ano."

maio 01, 2009

Livro de notas



Noteboek de Evelien Lohbeck

Noteboek consiste segundo a sua autora, Evelien Lohbeck, numa tentativa de confundir a realidade, no desafio da ilusão e expectativas. Filme realizado como projecto de fim de curso. Evelien cria aquilo a que eu chamo de ilusões sobre simulações do real.