fevereiro 12, 2013

O Lado Negro da Moral

The Baby Lab (2012) é uma reportagem do programa 60 Minutes sobre a moral em bebés, realizada com os professores Karen Wynn e Paul Bloom da Universidade de Yale. Karen Wynn é directora do Infant Lab onde se estudam mecanismos mentais para compreender o mundo a partir dos olhos das crianças. Por outro lado Paul Bloom é autor do reconhecido livro How Pleasure Works: The New Science of Why We Like What We Like que já aqui analisei.


A essência dos seus estudos e trabalhos demonstraram que bebés com apenas 3 meses conseguem ter já um sentido moral. Esta descoberta leva-nos à simples constatação de que a moralidade e a justiça são algo que nasce connosco, ao contrário da ideia de que seria necessário educar as pessoas neste sentido. Ou seja a nossa biologia, fruto de milhões de anos de evolucionismo, sabe distinguir o certo do errado.
Karen Wynn: "Study after study after study, the results are always consistently babies feeling positively towards helpful individuals in the world. And disapproving, disliking, maybe condemning individuals who are antisocial towards others."
Paul Bloom: "What we're finding in the baby lab, is that there's more to it than that -- that there's a universal moral core that all humans share. The seeds of our understanding of justice, our understanding of right and wrong, are part of our biological nature."
Se assim é, então qual é o problema base do Mal na humanidade? É algo simples, que de tão simples se torna violentamente chocante. Algo que tem estado na origem de todas as guerras existentes na história da humanidade. A diferença. Nos estudos os bebés demonstram muito claramente que gostam de ver aqueles que são diferentes de si serem castigados. Simplesmente por não serem iguais a eles, no caso da reportagem através da simples arbitrariedade de não gostarem dos mesmos cereais. Se podemos ser assim apenas por causa de uma taça de cereais, imaginem quando o que está em causa é tão visível como a cor da pele, ou quando se torna visível a preferência sexual ou a crença religiosa, etc. etc. etc.


Parece ser verdade que o sentido de justiça nasce connosco, mas é um sentido que sai desvirtuado pelos efeitos de milhões de anos de sobrevivência. Ou seja ter um sentido de justiça para com quem se comporta bem socialmente ajuda a construir uma base comunitária de pessoas que me podem ser úteis futuramente. Mas ao mesmo tempo estar em estado de alerta perante todos aqueles que agem de modo diferente de nós, é importante para manter o nosso grupo forte. Primeiro nós, o nosso grupo, um grupo que se forma com pessoas iguais a nós, os outros são secundários.


Ou seja não precisamos de ser educados para aprender o sentido de justiça, mas precisamos de ser educados para compreender que a diferença não é algo mau, antes pelo contrário esta pode ser imensamente benéfica. O problema de tudo isto é que o efeito biológico tem predominância sobre o efeito cultural. E podemos até conseguir superar os instintos por via da tomada consciente de acções no nosso dia-a-dia, mas nada disto inscrito nos nosso instintos se vai verdadeiramente embora com a cultura ou a educação, como nos diz Bloom,
Paul Bloom: "I think to some extent, a bias to favor the self, where the self could be people who look like me, people who act like me, people who have the same taste as me, is a very strong human bias. It's what one would expect from a creature like us who evolved from natural selection, but it has terrible consequences. The kids who choose this and not this, the kids in the baby studies who favor the one who is similar to them, the same taste and everything - none of this goes away. I think as adults we can always see these and kind of nod. And the truth is, when we're under pressure, when life is difficult, we regress to our younger selves and all of this elaborate stuff we have on top disappears." 
A reportagem pode ser vista na íntegra no sítio da CBS.


Atualização 14.02.2013
No Facebook questionava-se a inovação deste estudo. Aqui fica a resposta.

A inovação deste estudo está na definição de uma metodologia que permitiu pela primeira vez obter respostas por parte de bebés com 5 meses, e até mesmo num dos estudos, até um mínimo de 3 meses. Esta é a primeira parte da importância, porque é extremamente complexo obter dados cientificamente demonstráveis com estas idades, já que ainda não falam, não desenham, nem escrevem. Aliás no caso dos testes com 3 meses nem sequer têm suficente movimento motor para se dirigir à escolha que fazem, obrigando o estudo a realizar-se com base no olhar dos bebés apenas. Conseguir dados com estas idades é assim, só por sim, um enorme avanço no conhecimento.

Depois a segunda parte da inovação é que estes bebés ainda estão muito pouco pouco aculturados. Estão muito próximos de tábuas rasas, no que toca a conhecimento apreendido. Assim, questionar um bebé destes é quase como questionar directamente a própria natureza, sem intermediário. Estamos aqui a falar de taxas superiores a 80% o que nos dá um panorama muito credível do molde humano à nascença. No fundo, o sentido como a Natureza encara o Bem, o Mal, e a Diferença.

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