fevereiro 06, 2013

Trier e a solidão da arte

É o segundo filme de Joachim Trier que vejo, e é o segundo embate que sinto. No ano passado tinha visto Oslo, 31. August (2011) e fiquei apaixonado pelo filme, apesar de não ter aqui escrito sobre ele, foi um dos melhores filmes que vi em 2012. E agora chegou a vez de ver o seu primeiro filme, Reprise de 2006.


Porque gosto tanto do trabalho de Trier? Não sei propriamente explicar, é algo que acredito ser mais de ordem perceptiva, e provavelmente bastante subjectivo. É verdade que em termos de linguagem cinematográfica temos aqui aquilo a que costumamos chamar de pérola. Adoro a sua planificação, adoro o ritmo da montagem, adoro a imagem e som, tudo junto criam toda uma atmosfera nórdica fria mas paradoxicalmente tão próxima.


Sinto-me próximo daquilo que se fala aqui, do desnorte, do desvario, da busca constante por algo mais, algo intangível, indefinível. Já passei por essa idade, mas sinto-me inevitavelmente a viajar no tempo e a relembrar todos estes questionamentos. A solidão e a arte como duas ideias indissociáveis, a importância de criar, de produzir algo, acima de tudo, algo original, algo para além de tudo o resto. Não deixa de ser estranho que este filme pareça quase uma primeira parte de Oslo, 31. August, embora não o possa ser já que Oslo, 31. August é um remake de Feu Follet (1963) de Louis Malle.


Depois a forma como Trier coloca todo este sentir em cena, impressiona. O cruzamento entre planos de detalhe, e gerais, o som, o corte de som, o som desfasado, desregulado, fora de tempo, como que se este fizesse parte das personagens, como se todo este trabalho da forma fosse em si uma expressividade da essência emanada do filme. Aqui a forma é o tema, e o tema é a forma. Ao contrário de muito cinema dito artístico, em que vemos a linguagem cinematográfica a servir a decoração, aqui ela fala, fala tão alto como as vozes dos personagens do filme.

Nota-se que esta é uma primeira obra, comparando com Oslo, 31. August, diria que aí o método se sofisticou, amadureceu, mas está mais contido. Aqui temos a experimentação, o filme acelera por vezes, com discursos que nos deixam um pouco à deriva, mas o filme é na generalidade genial na forma como consegue expressar o que tem para dizer.

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