maio 09, 2014

Quando os hábitos mudam (do cinema para os videojogos)

Nos últimos anos tenho colocado aqui a lista dos filmes que vou vendo em cada mês. Foi um hábito que desenvolvi porque a determinada altura dei-me conta que me comecei a esquecer os filmes que já tinha visto, e por isso o ato de os registar aqui ajudava-me a solidificar memórias. Ao longo destes anos tive oportunidade de através deste método perceber como decorria o mês, em termos de conteúdos acedidos. Ora a realidade com que me deparei nos últimos meses foi um constante decréscimo no número de filmes vistos, e um aumento no número de videojogos terminados. Esta mudança não parou de se agravar, e neste mês de Abril deparei-me pela primeira vez com um número maior de jogos do que filmes. E isto é tão mais relevante quando cada jogo requer, no mínimo, 10 vezes mais investimento de tempo.


Não sei se é um mudança para manter. É verdade que a lista de filmes que quero ver não pára de aumentar, no entanto quando chega o momento de ver ou jogar, tenho optado muito mais por jogar, os filmes parecem não conseguir estar a exercer sobre mim o encanto que exerceram durante toda à minha vida. Se por um lado, acho natural dado todo o meu envolvimento com o meio, por outro não deixo de me preocupar. O meu meio de eleição, em termos de ficção, sempre foi o filme. O que estará a acontecer?

Videojogos de Abril 2014

xxxxx Ni no Kuni: Wrath of the White Witch 2013 Studio Ghibli JRPG Japan [Análise]

xxxxx Spec Ops: The Line 2012 Yager Development Adventure Germany [Análise]

xxxxx Fallout 3 2008 Bethesda RPG USA [Análise]

xxxx Monument Valley 2014 USTwo Puzzle Sweden [Minigame] [Análise]

xxx Max Payne 3 2013 Rockstar Action Canada [Análise]

Julgo que existem dois factos que concorrem para esta mudança, sendo um deles mais determinante, e que passa pela mudança que o meio dos videojogos tem sofrido nos últimos anos em termos de histórias contadas, e formas de contar. Hoje é possível encontrar jogos que apresentam histórias com elaboração social capaz de nos questionar, e lançar na introspecção. Não temos apenas escapismo, entretenimento ou passa-tempo, temos viagens através de elaboradas redes de factos, eventos e personagens que nos prendem, nos motivam e nos ensinam.

O segundo facto, advém de eu ter tomado a decisão de levar os meus jogos, praticamente todos, até ao final. Até aqui, existiam muitos jogos que explorava as primeiras horas, estudava as mecânicas, o entrelaçamento formal com as histórias, e depois seguia para outro. Uma das explicações para tal, tinha que ver com a quantidade de jogos que queria explorar, conhecer e trabalhar. A partir do momento que passei a levar os jogos até ao final, o investimento de tempo por jogo, foi multiplicado por 3 ou 4 vezes, o que reduziu o número de jogos jogados em cada mês. Por outro lado, ganhei em experiência fruidora.

Filmes de Abril 2014

xxxx Le Trou 1960 Jacques Becker France

xxx The Last Days on Mars 2013 Ruairi Robinson UK

xxx American Hustle 2013 David O. Russell USA

xxx Dreamworld 2012 Ryan Darst USA

Ou seja, por vezes em termos do meu trabalho, não retiro muito mais do jogo, indo além das 4 ou 5 horas, mas o facto de levar o jogo ao final, permite-me ganhar uma compreensão alargada, contextualizada, e mais aprofundada de algumas decisões dos criadores. Por outro lado permite também ser recompensado com a expediência narrativa ficcional, que até aqui ia buscar ao cinema. Por isso se agora obtenho essas experiências através dos jogos, o cinema acaba por ser secundarizado. Aliás, isto não é diferente do que acontecia na minha relação com a literatura e cinema. Raramente lia ficção, dedicando grande parte do tempo de leitura à não-ficção, a ficção acabava por ficar para o cinema. Agora parece que a começo a obter a partir dos videojogos! Não sei se será para manter, depende dos jogos que forem surgindo, das histórias que nos quiserem contar, da forma como nos quiserem envolver. Vamos ver.

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