julho 20, 2017

Da narrativa em Tetris

O videojogo "Tetris" (1984) é um dos jogos mais relevantes do meio, não só pelo seu apelo enquanto jogo, mas por tudo aquilo que nos obriga a questionar sobre o objeto dos videojogos. Devem os videojogos apelar às nossas competências de raciocínio lógico tal como acontecia nos chamados jogos tradicionais, ou devem os videojogos abraçar outras áreas, nomeadamente trabalhar competências narrativas e empáticas?



Do meu ponto de vista, o Tetris dá uma resposta cabal à primeira parte, estimula e recompensa muito bem o investimento em raciocínio lógico em memória visual e atenção, e fá-lo sem nunca se preocupar com qualquer camada narrativa. Existem colegas que para defender a necessidade narrativa dos videojogos, abordam o videojogo pelo lado da experiência, e como esta acaba por estimular nos jogadores narrativização dos processos realizados em jogo. Não concordo com esta abordagem, pela simples razão de que o modo como fazemos sentido do mundo é pela narrativa, tudo é narrativizado na nossa consciência, mas isso não pode ser utilizado para atribuir características aos artefactos que eles não possuem. Neste caso o Tetris é um dos melhores exemplos dos videojogos, diria quase exemplar, de como um videojogo pode representar tudo o que meio é, sem qualquer recurso à narrativa. Com isto não estou, de forma alguma, a defender que os videojogos não precisam, nem são feitos de narrativa. O que interessa aqui é compreendermos o espectro do meio dos videojogos, compreender que um videojogo se pode situar num polo de um eixo que vai do puro Jogo, aqui como exemplo o "Tetris", até à outra extremidade desse eixo, num polo feito só de Narrativa, com o exemplo "Heavy Rain" (2010).

Para demonstrar isto mesmo, e esta foi a razão porque escrevi este post, deixo aqui um pequeno filme de animação que usa o Tetris como pano de fundo, e que este sim narrativiza o mundo de "Tetris". Do mundo de "Tetris" emergem personagens, emergem cenários, emergem conflitos, e temos uma história para contar. Claro que se trago aqui o filme não é apenas por narrativizar uma obra conhecida dos videojogos, muitos outros filmes existem, o interesse deste reside no facto de ter conseguido trazer para o centro do conflito narrativo a essência da jogabilidade de "Tetris".

“Ménage à Tetris” (2017) de Emile Rademeyer

O filme foi criado pela empresa Vandal para a agência BMF com o objetivo de ser apresentado no TEDxSYDNEY 2017.

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