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outubro 27, 2021

Pátria ou tapeçaria humana

"Pátria" de Fernando Aramburu é um trabalho impressionante, não tanto pelo seu tema, os efeitos da ETA na sociedade Basca, mas mais pela forma escultural oferecida ao texto que consegue transpor um mundo tremendamente fluído e veloz de oralidade e pensamento para o discurso escrito. Para este efeito contribuem duas grandes abordagens: a variação de voz, entre primeira e terceira-pessoa, que acontece a todo e qualquer momento, dando conta da relação entre os pensamentos interior e público dos personagens; e a variação temporal, presente e múltiplos passados, com o discurso a variar no tempo em função de cada personagem, podendo ser 30 ou 5 anos ou meses, obrigando o leitor a ir atrás, contextualizando, mas contribuindo para a ideia de uma tapeçaria humana que se forma a partir de tiras de vidas. Tendo em conta este labor de Aramburu, e tendo eu acedido à versão portuguesa e espanhola, tenho de dizer que em Português se perde muito do seu efeito. 

dezembro 31, 2019

Design de Narrativa 2010 - 2019

Mais uma década passada, mais um conjunto de artefactos narrativos que contribuíram para o avanço da nossa percepção sobre os modos como contamos e registamos histórias. Muitos destes parecem recuperar ideias com trinta, quarenta e até centenas de anos, mas acabam sempre por trazer algo de novo e impulsionar a reflexão sobre os modos de fazer. Nos primeiros lugares coloquei artefactos que abrem para media completamente distintos — filme-jogo, novela gráfica, novela objeto, filme interativo, jogo-livro, simulação-jogo —, que como se percebe pela categorização não são claros, ou melhor, não se encaixam num único medium, pela simples razão de que quebram as convenções dos supostos media de origem.

1. Her Story [Filme-jogo] (análise)
2. Here [Novela gráfica] (análise)
3. S. [Novela objeto] (análise)
4. Possibilia [Filme Interativo] (análise)
5. Return of the Obra Dinn [Jogo-livro] (análise)
6. Bury Me, My Love [Simulação-jogo] (análise)
7. The Stanley Parable [RV] (análise)
8. Alma, A Tale of Violence [Webdoc] (análise)
9. Pearl [Animação 360º] (análise)
10. Florence [Novela Gráfica-jogo] (análise)
11. The Art of Pho [Motion comic] (análise)
12. Bandersnatch [Filme interativo] (análise)
13. Way to Go [RV] (análise)
14. The Random Adventures of Brandon Generator [Motion comic] (análise)
15. This War of Mine [Simulação-jogo] (Análise)
16. Pry [Livro multimédia] (Análise)
17. Thirty Flights of Loving [Videojogo experimental] (análise)
18. Lifeline [Simulação] (Análise)
19. CIA : Operation Ajax [Motion comic] (análise)
20. Thomas was Alone [Videojogo] (análise)

Nesta lista coloco apenas artefactos que surpreenderam no design da narrativa — estrutura e medium. Muitos dos objetos que o têm feito pertencem ao domínio dos videojogos, contudo aqui destaco apenas as inovações. Em termos de qualidade narrativa, tendo em conta história e jogabilidade, dedicarei uma lista própria aos videojogos narrativos brevemente.

Além destes, deixo ainda um conjunto de objetos ou abordagens a que vale pena ficar atento no futuro próximo, tais como os audiobooks de Choose-Your-Own-Adventure e os audiobooks da Marvel que poderão vir a garantir lugares privilegiados em sistemas como a Siri ou Alexa, ou ainda as séries para plataformas móveis de novelas gráficas interativas — Episode ou Choices — que apesar de estarem numa fase embrionária conseguiram já um público bastante alargado.

setembro 22, 2019

A melhor cultura do século XXI

O jornal The Guardian fez ao longo das últimas semanas um balanço destas primeiras duas décadas do século XXI em termos da cultura criada no domínio específico das artes e entretenimento — em 11 áreas: Livros, Filmes, Videojogos, Teatro, Programas/Séries TV, Arte, Dança, Álbuns, Obras de Música Clássica, Comediantes e Arquitetura. Para apresentar esse balanço, recorreu ao comum meio de listas ordenadas que são sempre responsáveis por gerar celeuma, mas continuam a ser o melhor método para efeitos de catalogação. O melhor, não pela sua natureza avaliativa, algo que em cultura e artes deixa sempre muito a desejar, mas pelo modo como apresenta à sociedade um apanhado daquilo que um conjunto de especialistas considera ser digno de continuar experienciar, e que é imensamente relevante porque é destas listas que se geram os cânones, sem os quais nos perderíamos na imensidão de produção que o globo que habitamos produz num único dia. Estas vão servindo ainda para manipular o viés internacional cultural que está hoje completamente inquinado pelos EUA e UK, não apenas por causa do inglês, mas também porque a sua cultura mais competitiva tende a privilegiar a produção continuada destas listas. Diga-se que não é um trabalho fácil, e nos tempos que correm e num jornal aberto e gratuito, absolutamente impressionante.




Começar pelo todo das áreas escolhidas, percebe-se um enfoque na arte e na narrativa, notando-se a inclusão de duas áreas que apenas recentemente começaram a ganhar projeção: os Programas de TV e os Comediantes. Os primeiros claramente pela enorme força das séries de televisão que se têm vindo a transformar no grande meio de cultura de massas, lugar que já tinha pertencido à televisão, passou para o cinema, e agora parece estar a voltar à televisão. Interessante recapitular como os videojogos tinham sido anunciados como o meio do século XXI, mas até ao momento ainda não conseguiu nada que se aproxime das demografias das séries de televisão. Os comediantes sendo também uma novidade, surgem também pela força da televisão, seja por cabo ou stream ou simplesmente na rede, eles surgem enquanto programa de televisão. E ainda que possam encher teatros e auditórios, a sua força de atração e relevância social é emanado por esses programas, o que nos alerta para mais uma das muitas visões que os futuristas nos deram no passado, o fim da televisão.

Ainda no campo das áreas, e apesar de serem já bastantes, e nem saber se o Guardian não irá continuar a publicar mais listas, estranha-se a não presença de Banda Desenhada, ainda que alguns livros surjam no meio da lista de Livros, e podíamos dizer o mesmo da Pintura ou Escultura que desapareceram no meio das Artes, engolidas pela Arte Contemporânea, assim como a Animação e as Curtas-metragens. Ainda assim notamos também a falta de uma maior atenção às obras Multimédia — Webdocs, Filmes Interativos, Realidade Virtual e Aumentada, Instalações, Transmedia — que parece quase sempre existir por via dos videojogos, pela simples razão do dinheiro que movimentam.

Sobre as listas, comento apenas 3 — Filmes, Livros e Videojogos — por serem aquelas que sigo com  maior proximidade a produção de cânone. Não discordando de nenhuma das primeiras obras de cada lista, estranhei o facto de discordar bastante do resto dos Top 5, nomeadamente todos apresentam pelo menos 2 obras que não figurariam no meu Top 50 ou mesmo 100. No cinema — "12 Years a Slave" e "Under the Skin". No caso dos jogos — "Legend of Zelda: Breath of the Wild" e "Dark Souls". No caso dos livros, "Gilead" e "Never Let Me Go". Estranhei esta minha reação, algo visceral, porque como disse acima os cânones são importantes, e por isso sentir-me em desacordo tão profundo deverá querer dizer algo. Talvez a única explicação seja apenas e só que estou a ficar velho, e desfasado do tempo em que as modas são definidas. Não é a primeira vez que o sinto, já o senti antes ainda que seja algo mais recente. Como se nós fossemos envelhecendo e os mais novos fossem tomando o nosso lugar no domínio das correntes culturais e de entretenimento e os gostos gerais fossem naturalmente sendo atualizados.

Como criticar é sempre mais fácil do que fazer, e porque fazer listas limitadas apenas ao século XXI no caso da literatura é altamente complicado pelo que não pode ser equacionado pela data de produção, e no caso dos videojogos porque praticamente tudo cai dentro deste período. Deixo assim as minhas três lista de 5 obras em cada uma das áreas:

LIVROS
1. A Mancha Humana, Philip Roth, 2000, EUA
2. Liberdade, Jonathan Franzen, 2010, EUA
3. Os Dias do Abandono, Elena Ferrante, 2002, Itália
4. Uma Questão de Beleza, Zadie Smith, 2005, UK
5. A Estrada, Cormac McCarthy, 2007, EUA

FILMES
1. In the Mood for Love, Wong Kar-Wai, 2000, China
2. The Turin Horse, Béla Tarr, 2011, Hungria
3. A Separation, Asghar Farhadi, 2011, Irão
4. The Return, Andrey Zvyagintsev, 2003, Rússia
5. Three Monkeys, Nuri Bilge Ceylan, 2008, Turquia

VIDEOJOGOS
1. Ico, Fumito Ueda, 2001, Japão
2. The Last of Us, Bruce Straley & Neil Druckmann, 2013, EUA
3. Papers, Please, Lucas Pope, 2013, EUA
4. Her Story, Sam Barlow, 2015, EUA
5. Brothers: A Tale of Two Sons, Josef Fares, 2013, Suécia

Como disse, os grandes videojogos foram todos feitos já neste século, por isso é muito difícil fazer uma mera lista de 5. Adiciono aqui mais alguns que podiam ter entrado: The Witcher 3: Wild Hunt (2015), Max Payne (2001), Mass Effect Trilogy (2007-2012), The Stanley Parable (2013), Soma (2015), Inside (2016), The Sims (2000), Gris (2018), This War of Mine (2014), Gone Home (2013), The Walking Dead (2012), Thomas Was Alone (2012), Life is Strange (2015), Minecraft (2009), entre outros. Já agora, reparo que tenho 3 jogos de 2013 nos 5, mais 2 referenciados neste lista alargada, algo para analisar e refletir posteriormente.

janeiro 02, 2018

Goodreads: Melhores de 2017

Desde 2014 que uso o Goodreads para manter um registo dos livros que vou lendo. Tem sido muito útil porque me permite alguma disciplina, ainda que tenha de realizar algum esforço para evitar o efeito de gamificação, algo que inevitavelmente nos condiciona. Para tal, obrigo-me a escrever sempre, sobre qualquer livro que marque como lido. Aliás, por norma têm de ser textos com estrutura e tamanho mínimos para poderem também ser publicados aqui no blog. Por vezes permito a fuga a esta regra: quando o livro é muito fraco ou quando considero que quero continuar a trabalhar o assunto do livro com mais leituras, porque ainda não atingi um modelo completo e fechado do assunto, nesses casos dou apenas conta no Goodreads, num texto muito breve.


A média dos últimos quatro anos ronda os 80 livros. Estes têm-se dividido, aproximadamente, em: 5% de livros que não termino, por serem demasiado fracos; 20% não-ficção; 10% banda-desenhada; 15% literatura portuguesa e contemporânea; sendo os restantes 50% dedicados à leitura de clássicos do cânone literário.

Aproveito assim para deixar aqui, sem nenhuma ordem em particular, os 12 melhores que li em 2017, os links apontam para as resenhas realizadas aqui no blog, sobre os mesmos.
. Possessão (1990) de A.S. Byatt
. Memórias de Adriano (1951) de Marguerite Yourcenar
. A Estrada (2006) de Cormac McCarthy
. Desgraça (2005) de J.M. Coetzee
. Here (2014) de Richard McGuire
. Que Importa a Fúria do Mar (2013) de Ana Margarida de Carvalho
. Germinal (1885) de Emile Zola
. Myra (2008) de Maria Velho da Costa
. Uma Abelha Na Chuva (1953) de Carlos de Oliveira
. Os Dias do Abandono (2002) de Elena Ferrante
. Homo Deus: A Brief History of Tomorrow (2015) de Y.N. Harari
. The Best We Could Do (2017) de Thi Bui

Deixo o infográfico do Goodreads de todas as minhas leituras de 2017.

janeiro 01, 2018

Virtual Illusion: Mais Lidos de 2017

Mais um ano que passou, mais um ano de textos aqui no blog. Publiquei pouco, ainda assim alguns textos deixaram boas memórias. Uma grande parte é de análise de livros, jogos e filmes, os textos mais especializados dizem respeito à ciência em Portugal e à educação criativa. Assim, e para iniciar o ano, deixo os 12 textos mais lidos, ou pelo menos mais vistos de acordo com o número de visualizações do blog.


1 - A Ciência não é Crença é Conhecimento, 23 abril
2 - O Ano da Morte de Ricardo Reis (1984), 6 outubro
3 - A Ciência do Governo, o Ministro e a FCT, 13 abril
4 - Motivação mais relevante que QI, 23 dezembro
5 - O fim da Escola?, 9 outubro
6 - Publicidade cinematográfica e ideológica contra Trump, 6 fevereiro
7 - Memorizar requer esforço e não é intuitivo, 19 fevereiro
8 - O cérebro narrativo, 29 outubro
9 - Por que não conseguimos parar de olhar para os smartphones?, 30 abril
10 - Somos aquilo que criarmos, 23 maio
11 - Timelapse no mar em movimento, 16 setembro
12 - "Homo Deus", de Yuval Noah Harari, 6 julho

dezembro 31, 2017

Jogos de 2017

Foi dos anos, recentes, em que joguei menos, e ao contrário do que dizia o Rui Craveirinha no IGN, não fiquei com a ideia que tivessem saído muitos jogos, talvez por ter andado menos atento. Senti que foram sempre saindo jogos, mas não propriamente jogos que nos marcassem. Desde logo a grande desilusão de “Mass Effect: Andromeda” na primeira metade de 2017 não ajudou, mas serviu pelo menos para mostrar que nem sempre usar uma série de sucesso é garantia de investimento seguro, tanto para as empresas como para nós. Daí que este ano me limite a fazer uma lista dos 5 melhores jogos que joguei.


Os melhores jogos que joguei em 2017
1 - Horizon: Zero Dawn
2 - What Remains of Edith Finch
3 - Gorogoa
4 - Bury me, My Love
5 - NieR Automata 
(análise mais tarde)

Joguei outros jogos que marcaram este ano de 2017, uns melhor outros pior, sendo que alguns deles surgem mesmo destacados em listas e prémios, não sendo o meu caso.
- Mass Effect: Andromeda
- Assassin’s Creed: Origins
(análise mais tarde)
- Super Mario Odyssey
- The Legend of Zelda: Breath of the Wild
- Persona 5 
- Little Nightmares 
- Storyseeker (análise e entrevista no início de Janeiro)
- Far From Noise

Por fim, deixo os jogos de 2017 que ainda quero jogar, embora não alimente esperanças excessivas pela investigação que fui fazendo à volta dos mesmos, e por isso também não captaram suficientemente o meu interesse para os jogar quando saíram.
- Hellblade: Senua’s Sacrifice
- Observer
- Get Even
- Late Shift
(talvez não seja aqui o lugar apropriado, ou talvez sim)
- Middle-earth: Shadow of War
- Tacoma
- Rime
- Wolfenstein II: The New Colossus
- Last Day of June 

março 22, 2007

Os meus videojogos (1980-1995)

Aceitando o repto de André Carita, aqui fica a minha lista dos 10. Optei por criar duas listas. A primeira que apresento neste post, como aquela que representa os dias do passado e é dependente de memórias que ajudaram a marcar estes ecrãs nas nossa mente e nos nossos gostos. A segunda lista dirá respeito a actualidade dos videojogos e será publicada no próximo post.




Space Invaders (1978) e Pac-man (1979)


Dois dos jogos mais viciantes e que mais moedas me levaram em tardes solitárias numa máquina de um café de uma aldeia tipicamente portuguesa nos inícios dos anos 80. Julgo que primeiramente 2$50, os famosos dois e quinhentos :) e depois 5$00.



Double Dragon (1987)

Mais moedas, muitas moedas até conseguir chegar ao final com apenas uma única moeda, proporcionando uma hora inteira de diversão por apenas 25 escudos. No mítico salão de jogos Tin-Tin em Coimbra. Em finais dos anos 80, passavamos a maior parte dos intervalos entre aulas neste salão e à noite entre o salão de estudo da tarde e o da noite era para aqui que vinhamos todos. Muitas vezes não tinhamos moedas, mas ficavamos horas a ver jogar, a explicar novas técnicas e a aprender também. O próprio jantar acabava muitas vezes por ficar esquecido porque quando olhavamos para o relógio já a hora de fecho da cantina tinha passado.



Leisure Suit Larry (1987)

O primero videojogo de comédia e de adultos, se bem que de adulto tinha muito pouco. Talvez o que tinha mais era a irritante verificação da idade no início feita com perguntas que supostamente só um adulto saberia responder. Mas que o estereotipo de Larry era de morrer a rir, era :-).



Cabal (1988)

Muitas moedas. O prazer do lançamento de granadas, a destruição e principalmente o jogo em equipa.



Prince of Persia (1989)

Tardes e noites solitárias no quarto do colégio onde estudava. Plataforma, Unisys 386.

Rick Dangerous I & II (1989, 1990)

Tardes e noites solitárias no quarto do colégio onde estudava. Plataforma, Unisys 386.



Street Fighter II (1992)

Tardes inteiras sem aulas de lutas entre amigos. Num qualquer dia o jogo acabou por gerar discussão, que colocou um dos meus amigos a chorar e fez com que acabássemos ali os jogos de Street Fighter. Nintendo SNES


Super Mario Bros. (1992)
Delirante, parece que ainda ouço a música e os efeitos sonoros. Nintendo SNES



Doom (1993)
A primeira reacção foi, simplesmente motion sickness. Só consegui verdadeiramente entrar e jogar depois de insistir várias vezes.



Phantasmagoria (1995)
A minha primeira experiência de Cinema Interactivo. Na altura, o jogo representava o apogeu cinemático dos videojogos.

Em breve a lista actual desligada de memórias e tempos idos e desenhada com base num análise mais clínica das suas mecânicas.