Mostrar mensagens com a etiqueta musica. Mostrar todas as mensagens
Mostrar mensagens com a etiqueta musica. Mostrar todas as mensagens

junho 12, 2023

"Infra 5" de Max Richter

O álbum "Infra" (2008) de Max Richter é talvez o álbum que mais vezes ouvi. Em particular a faixa "Infra 5" tem estado nos últimos anos quase sempre nos primeiros lugares das músicas mais ouvidas no meu Spotify. Existe algo por debaixo desta sonoridade que faz mover o meu interior. Assim que começa, desligo de tudo o resto. Fico ali, atento, a tentar seguir o tom, o ritmo, os instrumentos, tentando perceber para onde vai evoluir a cada momento, aonde me vai conduzir. Hoje, resolvi voltar a pesquisar sobre o álbum e encontrei um pequeno vídeo do compositor em que explica a motivação por detrás do álbum, e depois detalha a "narrativa" que suporta a "Infra 5". Deixo a transcrição:

"So Infra is a ballet [choreographed by Wayne McGregor] based around the events of 7/7 [subway bombings in London]. And I guess the other thing that feeds into that is the psychological landscape of the wasteland, T.S. Eliot's "The Waste Land", which sets up this idea of an unreal city, this kind of hallucinatory sort of vision of a city. The music of Infra is a series of reflections on those events."
"Infra 5 is probably the most, I guess, directly representative music on the record, in the sense that you have this music which basically gets faster and faster. So, the image of people running, that's what Infra 5 is about. And there are various kinds of other things buried in the music. Like, there's sort of melodic material, which is sort of basically sirens. The violins just play these kind of siren melodies. So it sort of embodies that people running, trying to get out. So, yeah, that's Infra." 
"Music is a sort of catalyzer for thought and reflection." 
-- Max Richter 

fevereiro 20, 2023

Bowie, um hino à vida

"Moonage Daydream" (2022) oferece-nos apenas duas horas sobre a vida de Bowie, focadas num infinitamente pequeno número de coisas que disse e fez, ainda assim parece-me que o realizador Brett Morgen criou uma excelente síntese do todo ao focar-se sobre os aspetos criativos, suas motivações e processos. Ao longo dessas duas horas somos brindados com interrogações sobre o humano, a sua existência, propósito e lugar. Bowie não foi mero artista, foi um criador natural, possuia dentro de si uma fome por explorar o inexplorado, por compreender o incompreendido, por ir além do conhecido.

agosto 18, 2021

Experiência literária potenciada pela música

Durante mais de 25 anos ouvi o álbum “The Songs of Distant Earth” (1994), de Mike Oldfield, sempre pensando que parecia uma banda-sonora, contudo sem nunca saber que o mesmo era homónimo de um livro de Arthur C. Clarke de 1986. Foi Rob Dickins, da Warner, que sugeriu em 1993 a Mike Oldfield que fizesse um álbum conceptual baseado no livro de Clarke. Oldfield não se sentiu particularmente atraído pela história, mas gostou da atmosfera e do título. Pelo seu lado, Clarke adorava a sua banda-sonora de “The Killing Fields” (1984). Do meu lado, tenho de concordar com Oldfield, a história é muito incipiente, mas ler o livro ouvindo o álbum cria uma experiência que por vezes roça a transcendência, capaz de nos fazer viajar além do nosso sistema solar...

dezembro 04, 2020

Animação: Smashing Pumpkins "In Ashes"

Saiu hoje o último episódio da a série de animação"In Ashes" (2020), com a música "Purple Blood" dos Smashing Pumpkins. Em tempos de pandemia, e na impossibilidade de filmar telediscos, a banda resolveu produzir toda uma série de animação em cinco episódios para o lançamento do novo álbum "Cyr". A série trabalha um mundo de ficção-científica e é apresentada em 2D, ainda que se sirva de um conjunto de outros suportes, tais como o 3D, mas mantendo o efeito de ilustração analógica. Esta relação particular com a arte fílmica não é novidade nesta banda, pois em 1995 já nos tinham oferecido um revisitar do filme "A Viagem à Lua" de Méliès, na forma de teledisco de "Tonight, Tonight". 

Billy Corgan escreveu a história e disse que "embora seja (na sua maioria) alegre, 'In Ashes' aborda muitas coisas que enfrentamos todos os dias, e se vivemos numa distopia, no paraíso, ou em ambos, a escolha, dizem alguns, é tua; e pode até mesmo ser uma mera questão quântica." A história da série serve de mote para o tom pretendido para o álbum que segundo Corgan se caracteriza como “a dystopic folly”.
Podem encontrar mais informação sobre o desenvolvimento técnico no AWN

Cada um dos episódios serve uma música do álbum, mas a animação não funciona como ilustração musical, antes a série funciona como filme completo, funcionando muito bem em sucessão. Tecnicamente a animação não é muito detalhada, mas a ilustração e a música compensam, criando uma belíssima experiência. Fica o último episódio, e abaixo a lista com links para os 5 episódios.

dezembro 10, 2017

Nolan salvo por Churchill

Dunkirk” (2017) é pura sensorialidade. É um filme sobre guerra que trata o que acontece numa guerra do ponto de vista da emocionalidade humana, individual e coletiva. Não há lugar para a discussão ou intelectualização do que está a acontecer, é tudo muito rápido e munido de um objetivo único, a sobrevivência. Nolan criou uma obra poderosa através de uma enorme síntese de informação e da modelação dos ritmos visual e sonoro que impedem o espetador de desligar.



Nolan trabalha a narrativa em três linhas distintas — na terra, pelo ar, e pelo mar — de modo a intensificar a emocionalidade.

Dunkirk” é um hino à arte de mostrar em vez de contar. Dada essa capacidade, de economizar no relato, de secundarizar a descrição, quase poderia ter sido feito por meio de meros quadros, ou fotografias estáticas, coladas pela música poderosa de Hans Zimmer. Nolan não quer dar conta do quê e do porquê, Nolan está apenas focado no que se sente. Claramente que é tudo espetacularizado, e por isso acabamos por sentir apenas o desnorte, o desapego, já que o medo real não consegue chegar até nós, nomeadamente por estarmos constantemente a ser estimulados pela surpresa.

No final do filme não sabemos porque aconteceu nem como foi possível acontecer tal, mas isso não é relevante. Em última análise o filme de Nolan corria o risco de se transformar num mero enorme teledisco, mas isso não acontece. Não, porque existe algo de surpreendente que ele consegue fazer-nos sentir. Depois de criada a dissonância cognitiva narrativa, comum em histórias de guerra em que as histórias se focam numa vida enquanto deixam morrer milhares, esta acaba sendo ultrapassada. Ou seja, se a meio do filme sinto o desperdício de tempo dedicado a um ou outro personagem, porque ao lado existem milhares a tombar, no final, tudo isso se apaga quando a força das palavras de Churchill são lidas a partir de uma folha de jornal.
“Even though large tracts of Europe and many old and famous states have fallen or may fall into the grip of the Gestapo and all the odious apparatus of Nazi rule, we shall not flag or fail. We shall go on to the end, we shall fight in France, we shall fight on the seas and oceans, we shall fight with growing confidence and strength in the air, we shall defend our island, whatever the cost may be, we shall fight on the beaches, we shall fight in the landing grounds, we shall fight in the fields and in the streets, we shall fight in the hills; we shall never surrender, and even if, which I do not for a moment believe, this island or a large part of it were subjugated and starving, then our Empire beyond the seas, armed and guarded by the British fleet, would carry on the struggle, until, in God’s good time, the New World, with all its power and might, steps forth to the rescue and liberation of the old.”
“Speech on the Evacuation”, por Winston Churchill à House of Commons, no Parlamento do Reino Unido, 4 Junho 1940 (Discurso audio completo, 12m)
Mas tudo isto demonstra que a sensorialidade de Nolan não chegava. Sem a racionalização, intensamente impressiva, de Churchill, o filme de Nolan teria sido uma grande obra plástica, mas vazia.

fevereiro 05, 2017

Score de "Arrival": Jóhannsson ou Richter?

Acabei de ver "Arrival", é um belo filme, dentro da linha que Villeneuve nos tem habituado, embora não me tenha impactado. A história sendo interessante não traz nada de muito novo com os artifícios da não-lineariadade passado-futuro, discordando do modo como inicia os flashbacks, embora concordando com a premissa base da história. Contudo, não é para falar da história nem da cinematografia que trouxe aqui o filme, mas antes para falar da banda sonora e score, ou melhor, para apresentar uma questão que me deixou intrigado.


O score de "Arrival" é brilhante tendo sido criado pelo não menos brilhante Jóhann Jóhannsson, e por isso mesmo teve direito a ser editado pela muito selecta Deutsche Grammophon. Contudo a sequência de início e fecho do filme, em que o twist se dá, e ligamos o círculo narrativo, é trabalhado com uma música, "On the Nature of Daylight",  que não é de Jóhannsson, mas antes de um outro, também brilhante, compositor Max Richter.

Isto não seria surpreendente se o score tivesse sido feito por ambos os compositores, contudo como podemos ver na capa do álbum, surge apenas o nome de Jóhannsson. E se isso me incomoda, apesar de saber distinguir o Score da Banda Sonora, mais ainda me incomoda o facto da música de Richter escolhida, ter sido utilizada por várias vezes em diferentes filmes, entre os quais o "Shutter Island" (2010) de Martin Scorcese e "Stranger than Fiction" (2006) de Marc Forster, e estar editada no seu álbum "The Blue Notebooks" de 2004.

É o próprio Richter que diz que não se sentiu muito convencido em deixar usar a música em "Arrival", uma vez que já tinha sido usada em vários outros filmes, mas como ele diz também, foi o próprio Villeneuve que insistiu para o seu uso. É recorrente o uso de música de câmara de grandes autores clássicos no cinema, assim como música pop ou rock. Contudo o que questiono é, qual a razão disto quando se tem a trabalhar para o filme um compositor brilhante como Jóhannsson? E porquê ir buscar uma música que já está gasta, que os espectadores mais atentos associam a outras memórias, e memórias de outros filmes?

Max Richter, "On the Nature of Daylight", (2004)

Não posso deixar de demonstrar a minha surpresa e decepção. O final do filme perde, porque o evento que deveria ser completamente original, próprio e pertença única daquele momento cinematográfico marcante, mistura-se com todo um outro conjunto de memórias, perdendo muito do seu impacto estético, impedindo a criação de uma memória nova totalmente única.

abril 01, 2016

IGN: António Lobo Antunes e Jonathan Blow

Esta semana escrevi para o IGN um texto a propósito de design de jogos, discutindo em concreto os seus aspectos criativos, nomeadamente a fronteira entre a arte e o design. Não se trata aqui de discutir pela milionésima vez a afirmação dos videojogos como arte, mas antes tentar compreender a forma artística que envolve o design de jogos, realizando-se para tal uma comparação com aspectos da dança e da música.


Por outro lado, na especificidade e tendo trabalhado o texto a partir do designer Jonathan Blow, realizo uma aproximação dos seus métodos de trabalho aos métodos do escritor António Lobo Antunes.

Para quem quiser ler, fica a ligação para o IGN, "Arte e Design de Jogos".

janeiro 18, 2016

A última lição de Bowie (a morte criativa)

Acabo de ouvir, pela primeira vez completo, “Blackstar” (2016) e não consigo conter em mim todas as ideias que me surgem na interpretação do álbum, agora que ele já não está entre nós, nomeadamente sabendo que ele sabia no momento da sua criação que os seus dias estavam a terminar. Este álbum é o fecho do seu legado, mas mais do que isso é uma enorme fonte de inspiração.




Era miúdo nos anos 1980 quando ouvi e vi pela primeira vez Bowie na televisão, o impacto não foi grande, era apenas mais uma estrela pop do momento, cabelo loiro espetado tal como tantos outros. Foi mais perto do final dessa década que vi pela primeira vez “Christiane F.” (1981) e assim enquanto descobria os efeitos da droga que alimentava a vida noturna de Berlim, descobria também verdadeiramente Bowie com “Heroes” (1977). Desde então nunca mais deixei de o associar a este momento, a esta música, mas mais do que isso passou a fazer parte da minha paisagem cinematográfica, pois foram tantas as vezes que ele voltou a surgir para marcar essa arte, nomeadamente voltaria a conseguir o mesmo feito em mim, com "I'm Deranged" (1995) em “Lost Highway” (1997) de David Lynch.



Por sinal ao ver agora o teledisco “Blackstar” de 10 minutos não consegui deixar de o ligar a “Lost Highway”, tanto pela estética visual e sonora, como pelo surrealismo que impregna a mensagem e nos obriga a trabalhar na interpretação. Todo o álbum é profundamente cinemático, como se Bowie estivesse não apenas a compor música, mas antes um contínuo audiovisual na sua cabeça, sobre tudo aquilo que nos queria dizer antes de partir.


Quando Kornhaber tentava interpretar Blackstar para a revista The Atlantic, dois dias antes de Bowie morrer, as ideias que lhe surgiam, ainda livres do condicionamento da sua morte, eram bem clarividentes da mensagem de Bowie contida no álbum:
“a (..) voice in the background squeals “I’m a blackstar” and modulations on it: “I’m not a filmstar,” “I’m not a marvel star,” “I’m not a pop star.” There’s also this: “You’re a flash in the pan / I’m the great I Am.” To whatever extent these lyrics can be summarized, they are about worship, ambition, and ascendance — and, more than anything, the allure and power of being “at the center of it all”.

To me, it’s the sound of someone gaining significance by insisting upon their significance; someone hungering to be above, unique, and immortal; someone awing the rest of mankind by standing apart from it. It’s about ego, and about how indulging one’s ego can, paradoxically, inspire others to forget their own. (..)

Could the celestial body of the title be the same force that has animated a career as extreme, as willful, as self-directed, and as influential as the one he has led? Alternately, is he himself the blackstar? (..)


Again and again on Blackstar, Bowie sings as someone whose achievements have wowed mankind while separating him from it, and who regards that separation with a mixture of pride and pain.”
Ao ouvir Blackstar senti muito daquilo aqui expresso por Kornhaber, nomeadamente não conseguia deixar de ver Bowie como a blackstar, uma estrela em fim de vida, que brilhou intensamente, que deu tudo o que tinha para dar, e agora tinha chegado o momento de se extinguir. Como nos diz na última música de Blackstar, "I Can't Give Everything Away":
“I can't give everything
Away

Seeing more and feeling less
Saying no but meaning yes
This is all I ever meant
That's the message that I sent”
E no meio de tudo isto não consegui deixar de pensar: como foi possível? Alguém em fim de vida, passando 18 meses com o cancro, sabendo que ia morrer, em modo totalmente terminal, ter investido toda a sua última réstia de energia para construir mais um álbum, o 25º. O que o movia a fazer mais um? O que buscava? Acredito que era a sua necessidade intrínseca de comunicar, de se juntar a nós, e a única forma de o fazer bem, a forma que melhor conhecia era compondo e cantando. Quando se diz que escondeu a doença que não quis dizer a ninguém, não me parece, Bowie optou por dizê-lo através da sua música, não se escondeu. Blackstar é uma homenagem à sua arte, mas foi a sua forma de nos dizer que tinha chegado o momento, e que não desejava esconder-se, definhar, mas antes brilhar até ao final, ser uma estrela que só se extingue quando o último raio brilha.

Mas é mais, esta obra é uma homenagem a todos aqueles que sofrem desta doença, que a combatem todos os dias, é uma réstia de uma estrela que brilha e nos diz que o avistamento da morte não deve ser razão para fugir da sociedade. O cancro não é com certeza uma morte fácil e indolor, mas é a única, tal como disse Richard Smith que nos dá tempo para nos prepararmos, e foi por isso que este a considerou “a melhor morte”. Saber que vamos morrer em breve, pode debilitar a motivação e energia, mas se nos agarrarmos a esta ideia de que temos o tempo marcado, poderemos tentar fazer desses últimos dias o melhor que pudermos, dificilmente para nós, mas para quem fica. E nesse sentido Bowie mostrou como — fazendo, construindo, criando.

junho 16, 2015

M+, um blues digital

Foi com um enorme agrado que vi, e ouvi, o primeiro teledisco da nova banda, M+, desde logo por reconhecer ambas as caras, de mestrados em que leccionei na Universidade do Minho, cursos que parecem também ter servido para se conhecerem. Do que me lembro de ambos, a Mónica Dias manifestava um gosto enérgico pelo audiovisual, numa faceta clássica e revivalista, de algum modo ligada à sua atração pela cultura musical do Blues, já o Márcio Paranhos era imbuído de um espírito mais experimentalista, com um gosto particular pela abstração e potencial do digital. Dois pontos distantes do espectro artístico, que ao juntar-se num projeto comum, teriam forçosamente de resultar em algo criativo. Claro que se assim é deve-se às suas competências, e não apenas aos seus gostos. Gostei do género musical, que parece designar-se de synthpop, e resolvi fazer-lhes algumas questões para o blog, às quais tiveram a amabilidade de responder.

M+ (Mónica Dias + Márcio Paranhos)

:: Como surgiu a dupla? Como se conheceram, e como surgiu a ideia para avançarem para um projeto musical conjunto? 

Mónica: A dupla surgiu em outubro de 2014, aquando de uma conversa de café onde o Márcio sugeriu criarmos um projeto em conjunto.

Márcio: Nós conhecemo-nos numa disciplina opcional, numa altura em que ambos estávamos a fazer mestrado. Cedo conversámos sobre alguns dos projetos que tínhamos e que andávamos a desenvolver. No meu caso estava ligado essencialmente às artes performativas com uma vertente visual e sonora experimental, por outro lado a Mónica estava ligada a um projeto musical na onda do rock e blues.

Mónica: Estes projetos pessoais acabavam sempre por não me satisfazer, não sendo os registos que gostava de poder explorar verdadeiramente. Numa conversa, o Márcio desafiou-me a misturar os nossos dois mundos e ver o que poderia nascer desta colaboração.

:: Existe aqui uma clara clivagem, com o Márcio numa componente electrónica e a Mónica com guitarra e uma voz R&B, como é que isto tudo se conjuga? 

Mónica: Por incrível que possa parecer, a conjugação foi mais fácil do que inicialmente se previa. O Márcio tem todo um sentido rítmico que aliado à minha experiência musical permitiu uma estrutura inicial bastante sólida na construção das músicas. Sempre me fascinou a possibilidade de misturar a sensualidade do blues a uma componente energética/envolvente que a música electrónica pode proporcionar.

Márcio: Ao contrário das minhas anteriores experiências na vertente musical, que passavam sempre por projetos de teor instrumental, fazia todo o sentido unir a voz da Mónica e sair da minha zona de conforto em prol de uma sonoridade mais musical. Com isto assumido, houve um cuidado em nunca sobrepor as diferentes naturezas que nos influenciam.

Mónica: Era essencial existir uma coesão do todo, no sentido do que queríamos seguir.



:: Qual é a vossa formação musical?

Márcio: A minha formação musical baseia-se essencialmente na intuição. Ouço imensa música desde muito novo, mas nunca tive nenhuma banda nem qualquer formação. No fundo sou um autodidata e um curioso.

Mónica: Eu estou no mundo da música, tendo vindo a incluir projetos musicais, há quase 10 anos. Toco guitarra desde os 13, mas sempre numa vertente autodidata.

:: O que procuram criar com esta abordagem musical, ou seja, existe algo que tinham em mente na hora de criar, ou saiu apenas naturalmente? 

Mónica: Desde o início pensámos que era importante não ter grandes restrições no que toca à criação. Não queríamos soar a nenhuma banda em especial. O nosso único objetivo, era criar e criar até chegarmos a um resultado que demonstrasse a nossa energia, e o gosto com que procuramos fazer música.

Márcio: Como pessoas de mundos tão díspares, fazia todo o sentido quebrar regras e perceber até onde conseguiríamos ir com todo o nosso entusiasmo. Tudo acaba por ser criado num sentido espontâneo e sempre em aberto.

Mónica: O fato de não nos regermos por regras ou algum registo em especial acabou por ser o nosso maior aliado e isso refletiu-se no nosso produto final.

Márcio: No fundo, por não queremos cair em nenhum estereótipo, acabámos por criar algo que soa muito a nós mesmos. Um reflexo de intenções que contém toda uma vontade de ir em frente.



:: O vídeo foi realizado pelos dois? O que procuravam passar com o mesmo? 

Mónica: Sim, o facto de termos um "low budget" acaba por nos desafiar a encontrar formas de comunicar a nossa identidade sem perdermos a essência da música criada.

Márcio: Foi realmente uma tarefa no mínimo peculiar. Duas pessoas a filmarem-se num espaço pequeno, e vazio, e sempre com uma questão em mente: como transpor estes dois mundos que são os nossos, num sentido complementar? É na resposta a esta questão que surgem as duas cores, que nos revelam e complementam.

Mónica: As duas cores representam nada mais que a nossa individualidade em constante comunicação.

Márcio: É dessa comunicação que M+ (Mplus) acontece.

"Freedom" (2015) de M+

:: Só têm esta música, ou têm mais em carteira? Vão lançar algum EP? Quando? E concertos? 

Márcio: Na realidade, já temos um EP pronto a ser lançado já este mês.

Mónica: Esta foi uma das primeiras músicas criadas e o acordo foi mútuo quando decidimos que este seria o nosso primeiro single.

Márcio: Existem ainda uns “truques na manga” que cedo serão desvendados, mas até ao momento há uma enorme vontade de levar as músicas a público e de as apresentar ao vivo.

Mónica: Está previsto para o próximo mês um conjunto de datas que assinalam os nossos primeiros passos nos palcos. Fiquem atentos às novidades, porque cedo anunciaremos datas de espetáculos.



Para mais informações sobre a banda, podem aceder à sua página facebook.

novembro 11, 2014

O moinho criativo

Vinha no carro quando, na RFM, sou brindado com uns versos cantados por uma voz feminina, surpreende-me, mas o que me surpreende surge depois, com fluência e cadência, a mensagem que se transmite surge por via de um português trabalhado, para logo depois ser misturada com a voz e versos de Zeca Afonso... nem queria acreditar. Depois percebi que aquilo que tinha acabado de ouvir era muito mais do que português eloquentemente falado em verso, "Vayorken" apresenta um trabalho de mistura criativa, extremamente rico, tudo criado pela artista portuense Capicua.

Capicua (aka Ana Matos Fernandes)

Movido pela surpresa pesquisei sobre a artista Capicua, e já não me surpreendeu descobrir que Capicua era Ana Matos Fernandes, licenciada em Sociologia (2006) pelo ISCTE e doutorada em Geografia pela Universidade de Barcelona, com uma tese intitulada  "Do discurso ao projecto urbano de reinvenção da ruralidade" (2011). A verdade é que aquilo que tinha ouvido naqueles 4 minutos - a estrutura, a composição e o conteúdo daquele relato - não era de todo banal, menos ainda superficial, como se espera muitas vezes de uma simples canção.

"Vayorken" (2014) de Capicua
"Era pra ser Artur e nasci Ana,
"Ana quê?" "Ana só" "Ana Só?" "Sim, só Ana!"
Era percentil 90 nos anos 80
E entre colheradas chorava sempre faminta
Sempre vestida como mini comunista
Com roupas que a mãe fazia com modelos da revista
E eu queria ser pirosa, vestir-me de cor de rosa
Vestir de Jane Fonda na ginástica da moda
Com sabrina prateada, licra colante
Crina de pequeno pónei bem escovada, espampanante.
Tinha a mania de pôr as cores a condizer,
no meu entender, rosa com vermelho não podia ser!
Uma noctívaga que não dormia a sesta
E de manhã sempre quis menos conversa,
Uma covinha só de um lado da bochecha
Adormecia com o pai e a mesma canção do Zeca!

Era sempre mais Mafalda do que Susaninha
Ai de quem dissesse mal do Sérgio Godinho
Ainda tenho alguns postais prá "gentil menina"
Enviados pelos pais de um qualquer destino.
E se alguém me perguntar pelo pai e pela mãe?
Eu sei!! Sei! Foram pa Vayorken, Vayorken
Foram pa Vayorken, Vayorken, Vayorken!"

Versos da música "Vayorken"
Capicua dá conta de algo que tenho vindo a defender, com cada vez maior intensidade, a necessidade de alimentar o nosso ser de conteúdo, de factos, eventos, informação e saber para poder produzir criativamente. Só assim se pode gerar aquilo que tenho vindo a trabalhar como, "moinho criativo", ou seja, se à água juntar apenas um tipo de fruta, independentemente do método ou processo com que misture, obterei sempre o mesmo sabor, variando apenas a sua intensidade. Se por outro lado for adicionando diferentes frutas, mas não só, elementos outros, experimentando e testando com doses e velocidades diferentes, poderei assim obter combinações distintas e inovadoras. A criatividade não difere em nada deste processo, já que só pode surgir pelo trabalho, persistência e conhecimento aplicado ao nosso "moinho interno".

É por isto que Angela Merkel não tem razão quando diz que temos licenciados a mais em Portugal, porque sem formação seremos sempre, apenas e só, o país pronto a servir turismo, servindo-se do dinheiro e cultura de quem nos visita, incapazes de ir além do imediato, do cumprir das necessidades básicas... vale a pena ler a entrevista dada pela Capicua ao JPN que nos elucida bem sobre tudo isto.

Deixo uma outra música da Capicua, "Amigos Imaginários", que se pode encontrar na sua mix tape no YouTube, "Capicua goes West (Mixtape Vol.2)" de 2013. Neste álbum podem encontrar também crítica social, fundamental no rap, sendo que a última música "Pedras da Calçada" dá bem conta do Portugal contemporâneo.


"Amigos imaginários "Capicua Goes West"" (2013) de Capicua
"Eu queria que me conhecesses e que me merecesses e que na palma da tua mão me reconhecesses, queria que os interesses fossem os mesmos e que como estes, os anos fossem eternos. Eu queria entender o silêncio e quando penso, queria apagar o incêndio que avança na tua vida, queria curar a ferida, só com saliva e conseguir sair sem cinzas na despedida. Eu queria reencontros, mesmo nos invernos, braços abertos, prontos, longos e fraternos. Queria que pudesses entender os meus versos como sempre fizeste, que tentasses pelo menos. Queria que pudesses esquecer os meus erros, como sempre quiseste, que guardasses os segredos. Queria que viesses sem stresses, sem merdas, queria que soubesses que também sinto as tuas perdas.

Quero dizer a coisa certa pra salvar a conversa da tua língua esperta, dessa ironia, dominar a frieza, e abrir sobre a mesa, toda a subtileza presa em telepatia. Faço questão de ser perfeita para ganhar a discussão e não há senão que não rejeite a minha ambição! Faço o que posso para que o fosso não se abra e que o desgosto e essa mágoa não nos cubra pelo pescoço dessa água suja. A casa arde, alguém que fuja e que carregue sem ajuda a nossa estátua durante a fuga!”

Versos da música "Amigos imaginários"

junho 16, 2014

"Seguir em frente"

O mais recente album dos James vem inspirado em algumas das experiências de Tim Booth (vocalista) com a morte ao longo de 2012. O album acabou mesmo por receber o título “La Petite Mort” (2014) (A Pequena Morte), que é uma espécie de eufemismo francês para o estado de quase inconsciência que sucede o orgasmo, e nesse sentido é também uma resposta de Booth à morte, como que a dizer que é momentânea e passageira, e que é preciso “Moving On”. E é exactamente por causa do teledisco realizado para “Moving On” por Ainslie Henderson que trouxe aqui hoje os James. Não que não me faça recordar 20 anos atrás, noite dentro, “Sometimes” em todas as discotecas em que entrava.




“Moving On” apresenta um belíssimo trabalho de stop motion com malhas de lã amarela, capaz de nos dar a volta, porque a vida e a morte literalmente dão a volta. O filme começa ligeiramente como é apanágio dos James, mas à medida que vai avançando vamos sentido a sua honestidade e frontalidade entrar por nós adentro. Quando termina, estamos ali, percebemos que é assim, faz parte, e é preciso “seguir em frente”. Deixo algumas das ideias que inspiraram este belíssimo trabalho, pela voz de Tim Booth e Ainslie Henderson.
"There is such a variety of death. I had three major losses last year in my life. My mum died in my arms when she was 90 and it was euphoric. It was just beautiful - and then another person died.
I didn't know they were ill because they kept it from me. It was a shock and really devastating for me because I didn't know. I didn't get to say goodbye. So death is not straightforward. It's not necessarily depressing. It's a lot of things and that has fed into a lot of the songs on the album.
That makes it sound depressing but some of it is uplifting – about letting go of things and not waiting for anything any more, about living life to the fullest."
Tim Booth [Daily Record]
“It’s 2014, and I’m on the phone to Tim. He is describing how the band came to write “MOVING ON”, and what the words mean to him. The story he tells me is deeply moving; one thing that stayed with me is his describing death as a birth. Days later this conversation echoes around my mind while I’m listening to the song as I walk past a typical Scottish woollen knitwear shop. My eyes flit over a ball of wool in the window while the vid2word “unwinding” is sung and pretty quickly I’m leaving a garbled over-excited message on Tim’s phone about the music video I have in my head” Ainslie Henderson [Mouth Mag]

"Moving On" (2014) por Ainslie Henderson, música de James

julho 08, 2013

o poder da música clássica

Provavelmente já viram esta TED, The transformative power of classical music, mas eu só agora tive esse prazer, e que prazer. Benjamim Zander é um comunicador brilhante, a forma como usa toda a sua linguagem corporal conjuntamente com um perfeito sentido rítmico de storytelling, torna a sua palestra um momento inesquecível. Preparem-se para umas boas gargalhadas!


Mas como acontece sempre nas TED, não é apenas a forma, mas é o que aprendemos com estas pessoas. Zander começa por explicar como funciona a evolução do processo de aprendizagem da música. Deste modo tendo cá em casa uma pequena que vai no seu segundo ano de música, foi muito interessante compreender o que acontece.
Na realidade, o que aconteceu foi que os impulsos foram reduzidos. Vejam, na primeira vez, a criança toca com um impulso em cada nota. Depois, com um impulso a cada duas notas. A criança de 9 anos coloca um impulso a cada 4 notas. E a de 10 anos, um impulso a cada 8 notas. A de 11 anos, um impulso na frase inteira.
Depois disto, Zander discute o modo como o storytelling se constrói através de frases musicais. Em palco e juntamente com o público, vai tocando e construindo ideias, e nós vamos construindo sentidos na nossa cabeça, para aquilo que vamos ouvindo. Zander leva-nos através da música, e nós ficamos ali completamente agarrados. O melhor fica guardado para o final, quando a música de Chopin sobe ao ponto mais elevado da musicalidade e interpretação narrativa, Zander coloca toda a sala num profundo silêncio. Fica ainda a definição de sucesso de Zander, algo que vale a pena reflectirmos, e pensar todos os dias que acordamos, qual é a nossa função, qual é o nosso objectivo,
Sabem, eu tenho uma definição de sucesso. Para mim, é muito simples. Não está relacionada com riqueza, fama ou poder. Está relacionado com a quantidade de olhos brilhantes que eu tenho à minha volta.

dezembro 27, 2012

Mirage, curta para álbum

Frederic Kokott é um designer de vídeo e som que para promover o seu álbum Mirage, disponibilizado integralmente no Soundcloud, criou uma curta de animação absolutamente graciosa. Assim que abri o filme no Vimeo fiquei imóvel em frente ao computador, tal a beleza do ambiente, da atmosfera, das cores acompanhado pela graciosidade do ritmo visual e sonoro.




Com um domínio de After Effects impressionante, ao ponto de na minha primeira visualização acreditar estar a ver um filme feito num qualquer software 3d. Claro que depois de saber percebemos porque as coisas aparecem como aparecem, ainda que continue a estar muito bem conseguido.Vejam os making-of de AE, parte 1 e parte 2. E já agora vejam também os making-of do desenvolvimento do álbum, da construção das batidas, e dos efeitos sonoros.


Depois de verem a curta, ouçam o álbum, está também muito interessante.

dezembro 07, 2012

a música visualizada

Understand Music (2012) é um trabalho que procura dar uma forma visual à forma musical, explicando o que esta é por meio de movimento gráfico. É um trabalho curto, mas dada a sua pureza, simplicidade e coerência, posso dizer que é talvez o melhor trabalho que alguma vez vi com este objectivo, que é imensamente complexo, algo que os próprios autores acabaram por reconhecer no seu site.



Produzido por um recém criado estúdio alemão, Finally, dedicado às artes visuais, Understanding Music tenta dar forma visual à musicalidade por intermédio do conceito de livro, e do movimento gracioso de tudo o que se move no ecrã. A tipografia é utilizada de forma brilhante discutindo o que se ouve, mas também o que se vai vendo, dando uma maior profundidade a toda a conceptualização da ideia do que é a música. É um trabalho que demonstra um domínio técnico das artes de ilustração e animação muito apurado, assim como uma enorme sensibilidade estética. Um estúdio que muito facilmente conseguirá vingar em diferentes áreas do design de comunicação.
Music is a good thing. But what we did not know until we started with the research for this piece: Music is also a pretty damn complex thing. This experimental animation is about the attempt to understand all the parts and bits of it. Have a look. You might agree with our conclusion!
Understand Music, (2012) de Finally

dezembro 06, 2012

trilogia em videoclipe

Um músico, M83, junta-se com uma dupla de criativos visuais, Fleur & Manu, e criam aquela que será provavelmente a primeira trilogia no formato de videoclipe. M83 trabalha sonoridades electrónicas e uma das suas músicas mais conhecidas, Outro, foi recentemente utilizada no trailer do filme Atlas (2012). A ideia para a trilogia surgiu do facto deste último album de M83 ter surgido quase como uma banda sonora na cabeça Anthony Gonzalez, fundador do projecto M83.

“I love composing music and making music with pictures in my head, it’s really what’s driving me. Cinema is the biggest influence for me – even bigger than music itself, so this album is built as a soundtrack, as an imaginary film. This is what we tried to convey with this trilogy. When I first talked with Fleur and Manu about this video project it was pretty obvious we wanted the same results. I think they were the perfect directors to achieve this…”
As três curtas utilizam como pano de fundo o cinema de ficção científica, indo buscar referências a Village of the Damned,  Close encounters of the Third Kind, Akira ou 2001, A Space Odyssey. A narrativa começa com Midnight City, no qual um grupo de miúdos ganha poderes de telecinésia e foge de um asilo. No segundo, Reunion, os miúdos defrontam as autoridades e juntam-se, para no terceiro, Wait, nos levarem por uma viagem introspectiva cheia de questões à lá 2001.

Parte 1 - Midnight City


Parte 2 - Reunion

Parte 3 - Wait

Se preferirem ver directamente no YouTube, usem o link para a playlist com os três filmes.

setembro 10, 2012

música para trailers de cinema e videojogos

A Two Steps from Hell (TSFH) é uma produtora de música para trailers de cinema (Harry Potter, Star Trek, The Dark Knight, Rise of the Planet of the Apes, Tron: Legacy, X-Men, Super 8, Inception, Hugo, etc.) e videojogos (Mass Effect 2, Mass Effect 3, Killzone 3, Star Wars: The Old Republic, etc.), constituída por um norueguês, Thomas Bergersen, e um inglês, Nick Phoenix, que cresceram nos seus países de origem estudando piano clássico até se mudarem para os EUA, onde começaram a TSFH em 2006.


Em termos sonoros, passei este verão a ouvir um dos cds mais recentes, Archangel (2011) e fiquei impressionado com a estética musical porque eu diria, pelo menos neste álbum específico, que segue um padrão composicional bastante rígido. Ou seja, a música ao contrário do que eu pensava no passado de que seriam trechos sonoros retirados dos filmes ou jogos, é desenhada especificamente para trailers. Por isso torna-se inevitável que todas as músicas apresentem uma lógica de trailer, começando de forma ambígua, abrangente e lenta, entrando num crescendo que se segue até ao final fechando, ou quase fechando, em climax ou mesmo apoteose. No caso específico dos TSFH especializaram-se no uso de música orquestral e grandes coros, capaz de construir toda uma sonoridade que nos reporta para um épico barroco, carregado de paisagens de bravura, coragem, libertação e heroísmo. A formula é muito bem apresentada por Thomas Bergensen numa entrevista,
Usually they [produtoras dos trailers] are looking for music that is impactful, not too complex in nature, or too busy in arrangement. It also needs to be fairly static dynamically, as it is up against a barrage of voice overs, sound effects and busy images. The music generally glues everything together and sets the mood/tone of the trailer.
A música destes senhores tem tido tal aceitação que deixou de ser um exclusivo do cinema ou dos videojogos, tendo chegado às séries de televisão (Game of Thrones, Sherlock, Revolution, Homeland), e até aos grandes eventos internacionais. Por exemploa a música Heart of Courage do álbum Invincible (2010) foi utilizada na abertura do Euro 2012, e novamente na abertura dos Jogos Olímpicos 2012, assim como foi utilizada pela RTP para um trailer do jogo Portugal x Espanha no Europeu 2012, como se pode ver aqui abaixo.


A contrário do que possamos pensar a música não é feita para cada trailer especificamente. Os autores estão continuamente a criar novas músicas de 2 a 3 minutos que vão enchendo o seu catálogo e permitem que as editoras analisem a sua base de dados e escolham a música que querem (entre 5 a 10 mil dólares o licenciamento para uso internacional). Isto que quer dizer que a mesma música pode aparecer em mais do que um trailer ou anúncio, apesar dos estúdios poderem adquirir a exclusividade. Segundo os autores os estúdios muitas vezes optam por escolher sonoridades familiares porque toca mais facilmente nas audiências de massas.

Nick Phoenix a tocar "taiko" (tambor japonês)

Isto é algo que já duvidava há algum tempo, porque por várias vezes tinha sentido proximidades sonoras, e entretanto descobri que por exemplo a música usada The Island (2005) foi também utilizada no trailer de Avatar (2009), e que uma versão orquestral de Requiem for a Dream (2000) foi usada num teaser The Lord of the Rings: The Two Towers (2002). Aliás a música de  Requiem for a Dream já a vi ser utilizada em vários filmes, trailers e programas de TV.

Entretanto fica o reel de 2012 no qual se pode ver uma enormidade de filmes de grande orçamento que fizeram uso da música dos TSFH.

julho 12, 2012

Nyman, McAlmont, Cooper e Cobby num remix criativo

Max Cooper é compositor de música de dança com um toque de melancolia e racionalismo, que lhe dá toda uma aura mística no meio. Da sua biografia, para além das mais de 50 obras originas editadas podemos retirar o seguinte,

A melancholy composer whose live sets can raise blisters in a club, Cooper is as comfortable writing abstract electronica as he is writing dancefloor techno 12"s . A rationalist with an otherworldly, idealistic side, Cooper is also a wildly creative musician who until recently had a day job as a sober scientist.
O seu mais recente trabalho, Recontructions EP (2012) é isto mesmo, um misto entre a electrónica de dança e a clássica contemporânea. O que Cooper nos traz, é um trabalho feito em cima de um trabalho prévio também ele já colaborativo, Secrets, Accusations and Charges (2009). Uma composição de Michael Nyman em conjunto com David McAlmont no formato de ensemble, fazendo uso de composições previas para vários filmes - The Piano, Gattaca; The Cook, the Thief, His Wife and Her Lover - editado no álbum The Glare (2009). Na composição Cooper diz que utilizou apenas duas pistas sonoras, o ensemble de Nyman, e a voz de McAlmont para criar a nova track. As composições de Nyman ficam assim quase irreconhecíveis, no entanto a aura mantén-se lá, e a voz de McAlmont ficou ainda mais leve, flutuando por cima da melodia, carregando ainda mais na melancolia.

Michael Nyman e David McAlmont

Max Cooper diz-nos que foi a primeira vez que Michael Nyman deu autorização para que se pudesse realizar uma remix do seu trabalho. Desse modo tínhamos aqui já uma obra de grande riqueza criativa e colaborativa, contando com Nyman, McAlmont e Cooper. Mas este trabalho levaria ainda uma última colaboração, Nick Cobby, para a criação do teledisco.

Nick Cobby
"After listening to the track, I was aware of how important the vocal element is in the track, which added an emotional and human element alongside Max's sonic soundscapes. I knew that i wanted to include real people for the first time, but i wanted to change their appearance; making them something more animated and kinetic, and therefore bring them into Max's world."

Desta forma o filme criado por Cobby que segue Cooper nos seus devaneios pela arte electrónica. Fazendo uso da interface Kinect para a captação de dados de representação tridimensional de pessoas, que depois foi operado através de tecnologias criativas de transformação generativa dos dados por forma a construir uma narrativa animada para o trabalho de Cooper. Um trabalho que não deixa de me lembrar o melhor do João Martinho Moura.

Max Cooper

Para terminar, o que temos aqui impressiona, claro pela qualidade do trabalho final, mas antes de mais pela possibilidade de colocar em contacto tanto talento, o que saúda inevitavelmente a qualidade da criatividade em termos de produto de remix. Deliciem-se com o filme e a música.

Max Cooper "Reconstruction" of Michael Nyman & David McAlmont "Secrets, Accusations & Charges" (2012) film by Nick Cobby

janeiro 01, 2012

Melhor 2011: Vídeo Online 1/3

Tal como no ano passado, passei umas horas a rever os conteúdos que partilhei no Facebook em 2011. Ao contrário do ano anterior, em que listei os links e os vídeos de animação, este ano resolvi apenas listar vídeos, isto devido ao tempo que levaria para filtrar e catalogar toda a informação como fiz no ano anterior. Só os vídeos eram mais de duas centenas, de modo que assim registo aqui no blog os que me parecem valer a pena recordar, e que para mim ficarão como marca da paisagem do vídeo online de 2011. Claro que para além destes houve ainda os que me levaram a escrever aqui no blog quando saíram, filmes como Rosa, Mondego, Blik, Blind, Mourir Auprès de Toi, ou Forte da Graça. Mas para ver todos os vídeos online partilhados aqui no Virtual Illusion basta seguir a Etiqueta Curtas.


Dividi os vídeos em várias categorias, Nacional (1), Artístico (2), Animação (3), Experiências (4), Narrativa (5), Lugares (6), Mudança (7). Como sempre existem vídeos que podiam estar em mais do que uma, e outros em que tenho dúvidas sobre a sua melhor catalogação, contudo o que conta é que esta nos ajude na pesquisa. Devido à quantidade de vídeos, fiz três posts, começando pela categoria Nacional.


Vídeo Online Nacional (1)

1 - Lifeline, André Gaspar

2 - Portugal 2011, Turismo de Portugal, I.P.

3 - Um Dia Como os Outros, Dario Silva

4 - Póstroika, João Maria Condeixa

5 - Violência Doméstica, CIG

6 - Vampire Bash, António Silva

7 - The Hunt, Ricardo Garcês

8 - Portugalnomics: Ep. 1, Câmara Cascais

9 - Portugal Melhor, Excentric

10 - Sagres Preta Chocolate

11 - Sean Riley & The Slowriders - Everything Changes

12 - Luisa Sobral - Not There Yet

13 - We Trust - Time (Better Not Stop)

14 - Rouge - "Li Azul"

15 - Utter - "In The End"

16 - Daniel Pinheiro Wildlife Showreel 2011

17 - Vídeo Português 2011 Mais Visto



Melhor 2011: Vídeo Online 2/3
Melhor 2011: Vídeo Online 3/3

maio 06, 2011

a criatividade auto-motivada, parte 1

Hoje foi um dia em cheio para mim, descobri dois novos talentos nacionais, o Grupo Vocal da Escola Básica 2.3. da Maia (Açores) e a produtora Clones. Os primeiros a dar cartas no campo da música, os segundos no audiovisual. O que os liga?

Grupo Vocal da Escola Básica 2.3. da Maia (Açores)

Primeiro são ambos "produtos" nacionais, segundo são ambos "produtos" criativos, terceiro são fruto de trabalho auto-motivado e não-remunerado, quarto dão-se a conhecer através dos meios de distribuição que a internet lhes faculta a custo zero (MySpace, Facebook, e Blogs). Só isto, é para mim mais que motivo de regozijo e felicidade. Só tenho a dizer uma coisa, viva a motivação criativa, e viva quem num país, que apenas fala de troikas e finanças, ainda empurra, faz, constrói, e dá corpo aos sonhos.

ERA UMA VEZ UM CAVALO, Nirvana - Smell's Like Teen Spirit, pela E.B.2.3. da Maia
O Grupo Vocal da Escola Básica 2, 3 da Maia (São Miguel - Açores), iniciou-se em Setembro de 2010 com o intuito de aumentar a oferta de actividades musicais nesta mesma escola. Actualmente é constituído por 18 elementos com idades entre os 10 e 13 anos. A principal actividade neste ano lectivo foi a criação do espectáculo "Velvet Carochinha", onde as tradicionais músicas infantis receberam uma nova "roupagem" com base nos grande hits da música rock. AC/DC, Queen, Nirvana e Led Zeppelin, entre outros, conheceram as fantásticas personagens do imaginário infantil português, dando origem a um programa de recordações únicas.

MACHADINHA - Queen - Will Rock You, pela E.B.2.3. da Maia

Primeiro é preciso ter em atenção que se trata de um grupo musical constituído por crianças com idades compreendidas entre os 10 e os 13 anos e em segundo lugar é um trabalho germinado numa Escola Pública Portuguesa, o que só de si é já uma vitória. Podia ter mais qualidade, pois podia, gravando num estúdio, com produção a sério. Mas o que aqui temos vai muito além do comum trabalho amador.

E sobre os Clones vejam o texto seguinte.

fevereiro 19, 2011

Vendas de música gravada 1973-2010

Dois gráficos que poderão elucidar algumas pessoas que ainda acreditam que a internet é um antro de pirataria e destruição da música gravada. Claramente que para quem interessa existem formas de ler os dados actuais como um desastre para a indústria. Mas se olharmos para a realidade e analisarmos mais do que apenas a camada da superfície, vamos ver que a indústria da música gravada está bastante bem de saúde e recomenda-se.
No primeiro gráfico encontram-se as vendas dos 8-pistas, vinyl, CDs e álbuns digitais desde 1973 a 2010. Aqui podemos ver o declínio do formato de álbum, que regista hoje vendas ao nível de 1973.

No segundo gráfico vemos a mesma dimensão temporal mas agora para as músicas individuais, ou singles. E aqui o que assistimos é um aumento astronómico, tendo 2010 vendido 5 vezes mais do que em qualquer outro período dos registos de vendas de música gravada.


No final de contas a música que interessa às pessoas é a canção de que gostam e não todo um álbum feito apenas com o objectivo de arrecadar mais dinheiro. Grande parte dos álbuns de pop/rock não passam disso mesmo, de "enchidos" que acompanham uma a duas músicas com alguma qualidade.
O álbum faz apenas sentido para a gravação de obras como concertos, sinfonias, etc. que são um todo, em que só a audição de todo o CD permite aceder à obra completa. Aliás se o CD teve 74 minutos de gravação possível foi para fazer caber aí dentro a 9ª sinfonia de Beethoven, uma exigência do vice-presidente da Sony dessa altura, já que a primeira versão previa apenas 60 minutos.


[via Digital Music News]